(Carlos Romero Carneiro)
Há momentos na vida pública de uma cidade em que o silêncio se torna cumplicidade. E é justamente quando as instituições que deveriam servir ao bem comum começam a se perder em vaidades, disputas pessoais e comportamentos incompatíveis com a função pública, que a voz da sociedade civil se faz não apenas necessária, mas urgente.
O manifesto divulgado recentemente por entidades centenárias e respeitadas de Santa Rita do Sapucaí não é um simples documento. É, acima de tudo, um sinal de alerta. Um lembrete forte de que a ética, o decoro e o compromisso com o coletivo não podem ser tratados como acessórios no exercício da vida pública.
É simbólico que esse chamado parta das instituições que, historicamente, ajudaram a construir a identidade do município. Santa Rita, que é reconhecida nacionalmente por sua vocação para a educação, para a inovação e para o desenvolvimento social, não pode aceitar ser reduzida a manchetes constrangedoras ou à banalização da política.
O que está em jogo não é apenas a imagem da Câmara Municipal, mas a credibilidade de todo um sistema democrático local. Quando vereadores se esquecem de que foram eleitos para trabalhar pela coletividade — e não para alimentar embates pessoais, espalhar constrangimentos ou desrespeitar as normas básicas de convivência — colocam em risco não só suas próprias trajetórias, mas também a confiança da população na democracia e nas instituições.
O manifesto traduz um sentimento que não é de um grupo isolado. É o eco da indignação silenciosa de muitos cidadãos que, até então, talvez observassem com descrença, talvez com esperança de que a maturidade política prevalecesse. É um basta. Um basta à política rasa, à ausência de postura, ao descaso com a missão pública.
Mas, mais do que denúncia, o documento traz um chamado à responsabilidade. Ele não fala de destruição, de cancelamento, nem de linchamentos morais. Pelo contrário: fala de reconstrução, de resgate, de diálogo qualificado, de elevação do debate. Porque uma cidade que se orgulha da sua trajetória de desenvolvimento, de inovação e de solidariedade precisa — e deve — exigir que seus representantes estejam à altura dessa história.
A ética, o decoro e o respeito às leis não são apenas exigências jurídicas. São princípios que garantem a saúde do tecido social. Quando eles são violados, não há tecnologia, não há progresso econômico, não há desenvolvimento que se sustente.
O manifesto das entidades é um ato de amor à cidade. Um gesto de quem entende que preservar a dignidade das instituições não é uma questão partidária, não é uma disputa de grupos. É um compromisso com o futuro. Com a educação, com a paz social, com a justiça e com a ideia, cada vez mais urgente, de que é possível — e necessário — fazer política com grandeza, com ética e com respeito.
Santa Rita do Sapucaí já provou, muitas vezes, que é capaz de liderar, inovar e transformar. Agora, mais do que nunca, é hora de provar que também pode ser exemplo de cidadania, de civilidade e de integridade pública. No fim desta história, é a sociedade que escolhe se quer ser espectadora passiva ou protagonista da sua própria transformação.
Leia o Manifesto: