Estudo de Paola Carli desvenda as origens do Bloco Mimosas Cravinas

A primeira notícia encontrada nos jornais que fez referência ao Bloco Mimosas Cravinas remonta ao ano de 1932, em matéria veiculada no Jornal Santa Rita. Ao fazer referência aos preparativos do bloco, relacionava-o como um dos precursores do carnaval na cidade.

Os responsáveis pela formação do bloco foram: a cozinheira Maria Idalina de Jesus (também conhecida como Maria Bonita), o músico Pedro Eduardo da Silva e o marceneiro José Pamphiro Rosa (pai de Elísio Pamphiro Rosa, colunista do Empório de Notícias). O principal nome relacionado ao bloco, durante aqueles anos, foi o de Maria Bonita (filha dos ex-escravos Balbino Lucas Ribeiro e Idalina Maria de Jesus).
Maria Bonita, através do Mimosas Cravinas, promoveu diversão para pobres sem acesso ao carnaval elitizado dos corsos e dos blocos Ride Palhaço e Democráticos.

Ao contrário do Ride e do Democráticos, o Mimosas Cravinas não contava com a ajuda das tradicionais famílias que, além das mensalidades, tinham os chamados livros de ouro, que arrecadavam dinheiro para custear a produção dos carros e fantasias. Era, portanto, um desfile sem fantasias luxuosas, mas pensado e trabalhado na coletividade.

O bloco não possuía carros alegóricos. O desfile de todos os membros acontecia a pé pelo seguinte trajeto: saíam da Rua Nova, desciam o Morro do Zé da Silva e contornavam a praça, por mais de uma vez. Ao pensar nesse trajeto, podemos refletir em seu significado político. A Rua Nova foi constituída, no final do Século XIX, como moradia de um grande número de negros, em período próximo à abolição. Como aconteceu nos grandes centros brasileiros, esses sujeitos sociais foram retirados dos centros e relegados às extremidades das cidades. Ou, ainda, com a abolição, ao deixarem as fazendas, passaram a residir em locais menos privilegiados pela administração pública.

Ao descer o morro e passar pela Rua Cel. Antônio Moreira da Costa, o trajeto era marcado por casas de famílias tradicionais que acompanhavam a evolução dos blocos de suas sacadas ou caminhavam ao lado deles. A “apoteose” acontecia na praça que, segundo memória corrente, até o início do século XX, era um espaço em que havia a separação entre negros e brancos. Nos dias destinados à folia, o espaço era partilhado pelos diversos grupos.

Ao contrário do Ride Palhaço e Democráticos, que constituíam o chamado desfile-espetáculo com seus carros alegóricos e fantasias de luxo, o Mimosas Cravinas era simples. O que colocava o bloco na rua era a força e união dos foliões que, muitas vezes, acabavam por confeccionar as suas próprias fantasias. O carnaval era uma ocasião relacionada ao esforço para estar presente na folia, mesmo com as dificuldades, demonstrando a força do coletivo e a participação individual para constituir o desfile.

Em 1932, o Santa Rita Jornal destacou: “Foi imprevisto e ruidoso o sucesso alcançado por esse cordão, tal a originalidade de sua organização, tal a surpresa pelos cavalos e bois que abriram alas por entre as gargalhadas estridentes e os aplausos da multidão admirada! Os bailes das Cravinas estiveram animadíssimos.” Em 1936, o jornal Correio do Sul, voltou a destacar os preparativos do bloco: “ As Mimosas Cravinas já estão se preparando. O folião mór do bairro colored, que todo mundo sabe ser o Pedro Eduardo, já está treinando a bossa.”

A matéria destaca, além das audições, o local ao qual o bloco pertencia, a Rua Nova, mencionada como “bairro de cor”. E noticiou, após o desfile: “Neste ano de 1936, o bloco Mimosas Cravinas desfilou no domingo, ao lado do bloco Ride Palhaço, percorreu nossas ruas, mostrando que o carnaval em Santa Rita não encontra rival no Sul de Minas.”

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