Por Ivon Luiz Pinto
Aqui, onde o Vale da Eletrônica encontra eco nas montanhas do Sul de Minas, há um lugar que parece ancorar o tempo e a alma da cidade: a Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia, ou, como a chamamos, simplesmente “o Santuário”. Não é só um templo de pedra e fé; é o coração pulsante da praça Santa Rita, onde histórias se entrelaçam como as árvores que sombreiam os bancos ao redor. Chego à praça numa manhã de maio, quando o ar ainda carrega o frescor da Serra da Mantiqueira. A fachada da igreja, ergue-se imponente, mas sem arrogância. É como se ela soubesse que sua grandeza não está apenas na arquitetura, mas nas vidas que acolhe.
Todo dia 22 de maio, transforma a cidade numa romaria de gratidão à santa das causas impossíveis. O interior abraça os fiéis com uma paz que só os lugares sagrados sabem oferecer. A luz filtrada pelos vitrais coloridos dança no chão, formando desenhos que parecem contar segredos. O altar, ornamentado com flores frescas, guarda a imagem de Santa Rita, trazida de Portugal há dois séculos. No dia 22 de Maio de 1825, o padre Mariano Acioli benzeu a capela e celebrou a primeira Missa. A imagem veio da fazenda de Braz Fernandes Ribas, em procissão rezada e cantada. Era uma quinta-feira e, prodigiosamente, este ano o bicentenário da Igreja é também numa quinta-feira. São as delicadezas de Deus.
Hoje, a imagem na urna, no subsolo da igreja, ainda atrai olhares de devoção e pedidos sussurrados.
Enquanto caminho pela nave central, penso nas tantas vidas que cruzaram esse chão. Aqui, batizaram-se crianças que mais tarde se tornariam engenheiros do Vale da Eletrônica. Aqui, casaram-se casais que, décadas depois, voltariam para celebrar bodas de ouro. E aqui, em silêncio, muitos vieram chorar perdas ou agradecer vitórias. A igreja é mais que um ponto turístico; é um diário vivo da cidade, escrito nas orações e nos encontros. Na praça lá fora, a vida segue seu ritmo. Crianças correm, um grupo de idosos conversa sob a sombra das árvores.
A igreja, no entanto, permanece serena, como uma avó que observa os netos brincarem, sabendo que, no fim do dia, todos voltarão para seu abraço. Durante o HackTown, quando a cidade se enche de jovens inovadores e nômades digitais, a praça vira palco de ideias e sons, mas a igreja nunca parece deslocada. Ela acolhe a modernidade com a mesma calma que acolheu os cafezais do passado.
Saio do templo e me sento num banco da praça, olhando para a fachada. Penso em Sinhá Moreira, a visionária que transformou Santa Rita num polo de tecnologia, e imagino se ela, em suas andanças, também parava aqui para refletir. A igreja, com sua simplicidade majestosa, parece sussurrar que o progresso e a fé não são opostos, mas parceiros. Afinal, em Santa Rita do Sapucaí, o futuro e o passado caminham de mãos dadas, e a Igreja de Santa Rita é o ponto onde eles se encontram para dançar.
Enquanto o sol sobe e aquece a praça, um sino toca, chamando para a missa. É um som que atravessa séculos, unindo os de 1825 aos santa-ritenses de 2025. E eu, um simples visitante, sinto-me parte dessa história, mesmo que por um instante. Porque a Igreja de Santa Rita não é só de pedra e vitrais; é de gente, de sonhos e de um amor que, como a santa que lhe dá nome, faz o impossível acontecer.