(Por Ivon Luiz Pinto)
O medo é uma emoção primal, enraizada na sobrevivência e sempre esteve presente em minha vida. Primeiro aprendi a temer fantasmas como a mula sem cabeça, a mulher do balaio, a loura que ficava nos sanitários da escola e a porca de sete leitões. Os fantasmas de minha infância povoavam minha mente e o Anjo da Guarda me defendia. O medo com sua mão invisível e terrivelmente gelada roubava minha coragem e me deixava inerte, sem ação. João Câncio, morador na estrada do Taboão, quase toda noite assentava no banco da farmácia e me contava causos de assombração. Eu ficava com medo, mas procurava não demonstrar e, quando papai fechava a farmácia, eu ia para casa segurando firme na mão dele.
Mais tarde, a Guerra trouxe com ela o medo dos alemães que comiam criancinhas e dos japoneses suicidas. Precisava de uma intervenção divina e a religião em alguns casos abafou o medo. Muito mais tarde compreendi que a guerra é fruto do medo de perder alguma coisa e que era preciso fabricar inimigos para poder vender armas. Notei que era necessário pensar em ter segurança. Então os muros foram levantados para esconder o medo que gera tumulto e que o medo de mostrar o que está escondido no fundo da gaveta de nossa mente leva a atacar e intimidar. Medo gerando medo.
Hoje o medo ronda as escolas como um animal raivoso que está à espreita. O medo afugenta famílias da nossa praça porque ali alguns sem tetos se reúnem para se embebedar e drogar e as bicicletas transitam livremente. E a gente fica na suspensão temporária da cidadania. O medo é uma arma que usamos todo dia para nos defender da falsa promessa política, da falta de ética social e da imoralidade dos costumes. O trabalhador tem medo de perder o emprego e o desempregado tem medo de morrer de fome. O professor tem medo da sala de aula e a escola tem medo do aluno. Como consequência desse processo pejorativo estamos criando muros para nos proteger da má atribuição das leis, da irresponsabilidade política e da insegurança social.