(Por Carlos Romero Carneiro)
O resgate de uma crônica escrita por Luiz Fernando Veríssimo e publicada no dia 25 de abril de 1991, trouxe à tona uma passagem curiosa envolvendo o pianista santa-ritense, Caio Nelson de Azevedo Vono, que usa o nome artístico de Caio Vono.
Muito reconhecido em diversas partes do país e do exterior pelo brilhantismo como pianista de jazz e outras vertentes, Caio estava no avião que o conduzia a Porto Alegre, convidado para realizar uma apresentação que marcaria a inauguração da restauração do Theatro São Pedro e lançar o seu novo livro, quando uma edição do Zero Hora quase fez com que derramasse o café pelando que a aeromoça acabara de servir.

Caio havia sido parceiro musical de Luiz Fernando Veríssimo e de Fernando Sabino, também músicos de jazz, e correu os olhos na crônica do autor de “O homem que sabia Javanês” para ver as novidades do meio cultural. Sua surpresa foi constatar que a apresentação que faria na noite seguinte, teria destaque naquele veículo de circulação nacional. E lá estava a deferência ao artista nascido aos pés da Mantiqueira: “Amanhã, no Projeto Blue Jazz do Theatro São Pedro, (foyer, às 18h30min), apresentação do pianista e compositor mineiro Caio Vono, que estará lançando o seu livro “O Ragtime e os caminhos do Jazz”.
Tal referência, no final da coluna, reforçada por uma matéria mais completa no dia seguinte, era a divulgação que faltava para que o pianista santa-ritense tivesse uma noite de grande sucesso e para que o seu livro fosse vendido como água.
No dia 26, data do espetáculo, o Zero Hora reforçava as recomendações do parceiro musical de Vono, com uma matéria sob o título: “Mineiro traz o honky-tonk a Porto Alegre”. E destacou: “Além de músico, compositor, escritor, advogado e administrador de empresas, o mineiro Caio Vono é um dos raros pianistas que ainda se dedicam ao estilo honky-tonk — derivado do nome dado aos pequenos botecos (saloons) do Sul dos EUA, onde se tocava o jazz de piano. Ele se apresenta hoje no projeto Blue Jazz no foyer do Theatro São Pedro, às 18h30min, quando também vai autografar o seu novo livro, O Ragtime e os Caminhos do Jazz.”
Ao apresentar as credenciais do nosso amigo e cronista sazonal do Empório de Notícias, o períódico destacou: “Caio Vono já fez apresentações em várias capitais brasileiras e países como Estados Unidos, Japão, Cuba e Portugal. Ele descobriu o jazz aos 13 anos, ao ganhar um disco de ragtime (jazz primitivo). A partir daí, passou a colecionar tudo que encontrou sobre o tradicional gênero negro como livros, discos, fotos, organizando e preservando acervo sobre o assunto. Inicialmente pianista clássico, em 1978, incentivado pelo então adido cultural adjunto dos Estados Unidos em Belo Horizonte e pelo pianista americano Thomas McIntosh — também especialista em ragtime — Vono montou e apresentou concertos didáticos sobre a história do jazz e do tango, contadas ao piano.
Em 83, a convite do governo americano, percorreu os Estados Unidos empreendendo pesquisa de avaliação do que sobreviveu do velho jazz de piano. Essa pesquisa deu origem ao livro que ele autografa hoje. Sobre ele, disse o maestro Ângelo Eleodoro: ‘Caio Vono atua como autêntico restaurador do honky-tonk, revivendo fielmente muitos sons que, em seu tempo, consagraram pianistas mundialmente famosos como Jelly Roll Morton, Frankie Froba e Joe Carr’.”
Muitas pessoas não sabem, mas temos em nossa cidade um dos mais aclamados pianistas do país. Um talento que convive conosco e que carrega grandes memórias musicais.