Relato aqui o poder de liderança feminina no passado, numa época em que a mulher não ia ao campo de futebol e nem usava calça comprida. Em Santa Rita, duas mulheres apresentavam um espírito de liderança avançado para o seu tempo. Gozavam do respeito na comunidade, principalmente, entre as mulheres. Superavam preconceitos e viviam uma vida simples.
A dona Maria do Bueno, uma mulata de espírito determinante, era capaz de ter sob sua influência dezenas de mulheres. Eu me lembro quando ela convidou dezenas de mulheres e seus filhos para subir o morro da Paineira, hoje Cruzeiro. Elas saíram a pé e nós crianças fomos de carroça até o começo da Rua Nova. Ao subirmos a Rua Nova, dezenas de moradores saíram para ver aquele aglomerado, e Maria do Bueno falava: “Vamos subir o morro da Paineira!” E mais mulheres e crianças se juntavam ao grupo.
Naquela época, para ir à Paineira era necessário contornar a Rua Nova, lá no alto. Todavia, aquele passeio ficou na metade do morro, pois a maioria das mulheres não gozavam da plenitude da mocidade.
Entre os fatos relevantes de Dona Maria Bonita, outra líder, lembro-me que, quando o time de seu coração jogava, ela era capaz de levar dezenas de mulheres ao campo para ver o Flamengo de Santa Rita. Naquele tempo, mulher não ia ao campo de futebol. Se o flamengo ganhasse, elas saiam do campo cantando até o clube das Cravinas onde findava a festa. Os homens iam atrás com os batuqueiros. E eu segurando na barra da saia da minha mãe para não me perder.
