Um jipe chamado Burraldo

Um Jeep 1951 batizado de Burraldo. Uma noite escura no caminho para a Fazenda da Divisa. E um menino de 7 anos iluminando a estrada sentado no capô. Sim, essa aventura aconteceu — e você precisa conhecer esta aventura de Bráulio Souza Vianna.

(Bráulio Souza Vianna)

Precisando de um veículo para ajudar nas atividades da fazenda, meu pai foi ao Zezico, revendedor de carros usados que ficava perto da ponte velha. Saiu de lá com um Jeep Willys 1951 da cor verde. Por ser forte como um burro, ganhou o nome de Burraldo. Muito valente, puxava uma carreta carregada de capim ou com porcos abatidos para vender no Mercado Municipal, onde tínhamos um açougue. Quem comandava era o seu Joaquim Silva.

Quando o tempo virava para chuva e as estradas ficavam lisas que nem um sabão, sua coragem, o desenho de seus pneus, a tração e a reduzida eram garantia de passagem. Burraldo esbanjava eficiência na roça, mas quando tinha que ir para o asfalto era outra história… Matuto, não era acostumado com o asfalto e, muitas vezes, nos deixava na mão.

Um dia, papai precisou ir para a Fazenda da Divisa em Paraibuna e fomos eu, ele e o Burraldo.
Saímos umas 17h, depois do último paciente. A noite ia alta, quando estávamos quase chegando. Eis que, já próximo de chegar à fazenda, os faróis inesperadamente se apagaram e tudo ficou em breu. Papai parou na beira da estrada de terra, pegou a lanterna, mas não conseguiu encontrar o defeito. Voltar não era uma opção, então não teve dúvidas: “Bráulio, você vai se sentar no capô do Burraldo, no lado do carona e segurar com a mão direita naquela orelhinha que prende o capô. Com a mão esquerda, vai iluminar a estrada com a lanterna”. Eu nem pestanejei: fiz o que ele pediu e, agora, com a iluminação parcialmente restabelecida e tocando bem devagar, com muito cuidado, acabamos de chegar
Dizem que Deus protege os bêbados e os loucos. Creio que os destemidos também. Hoje, isso seria impensável mas, naquela época, nos pareceu normal. Um menino de 7 anos sentado no capô de um jeep iluminando a estrada com uma lanterna…

E chegamos bem. Já era tarde da noite na Fazenda da Divisa. Zé Barros, o administrador, sua esposa, dona Anísia, e seus filhos Marco Antonio e Antonio Marcos, nos esperavam no fogão de lenha com uma carne de porco da lata, arroz feito na gordura de porco, ovos fritos e uma panela de feijão Canário, que só comíamos por lá. Enchemos a barriga e rimos da nossa audácia… Burraldo, cego que estava com os faróis queimados, nada viu.

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