Chico Preto, o flamenguista

(Por Carlos Romero Carneiro)

Das minhas lembranças mais remotas, guardo uma figura alegre, engraçada e de bem com a vida, conhecida como Chico Preto ou Chico Flamenguista. Morador da Rua Nova e engraxate dos bacanas da cidade, Francisco Ribeiro filho estava sempre nas redondezas da oficina do meu pai. Nos dias de jogo, o homenzinho botava um macacão com as cores do seu time do coração e balançava uma bandeira do seu tamanho. Seu sorriso e sua alegria contagiavam a todos, especialmente a mim, uma criança de três ou quatro anos, que adorava as suas danças e trejeitos. No cordão dos Democráticos ou do Sol Nascente, ele brincava com quem cruzasse o seu caminho, formando as frases com um sotaque carioca engraçadíssimo. Além do macacão alvinegro, Chico também tinha outro de bolinhas. Era como uma entidade que transitava pelas ruas com malemolência, portando um cabelo cortado à moda do rei Pelé. Meu pai já tinha me contado que, durante uma exibição do Canal 100, pequeno programa esportivo que passava antes dos filmes que eram exibidos no cinema, o Chico havia aparecido com destaque, entre os gols e jogadas do maior elenco que o Flamengo formou em todos os tempos. Quando se iniciavam as apresentações, eu ficava atento às cenas para ver se o Chico iria aparecer, mas nunca o vi. Seu lugar cativo no cinema era o Galinheiro, onde sempre era visto. Tudo o que guardei na memória foi a imaginação de ver aquele homenzinho, com cinquenta dentes na boca e seu macacão alvinegro, balançando a enorme bandeira, de um lado para o outro, como acontecia em Santa Rita.
Não sei que fim teve o querido Chico, mas sei que muitas pessoas aprenderam a engraxar com ele. Não sei como foram seus últimos dias ou como morreu, pois perdemos contato. Mas a sua alegria, continua gravada entre as boas lembranças que guardo da vida.

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