Santa Rita, esta nossa terrinha querida, era um rincão tranquilo, um amontoado de ruas e de casas habitadas por um povo acolhedor e hospitaleiro. Ainda não tinha grades nas janelas das casas e muitas ruas eram descalças. Asfalto? Nem pensar! À tarde havia o hábito de conversar nas calçadas, assentados em banquinhos ou cadeiras. E os causos e novidades iam surgindo. Quase todas as casas ostentavam um jardim, uma hortinha. Ninguém, nem de leve, imaginaria a transformação que sofreu, em todos os sentidos. Em cada casa de família era quase certo haver máquina de costura. Em muitas, para fazer reparos nas roupas, embainhar as fraldas de morim Ave Maria para os bebês que chegavam (naquele tempo os casais tinham muitos filhos). Em um punhado de casas a máquina servia para aumentar a renda. Muitas senhoras pegavam encomendas de roupas femininas e masculinas. Ainda não se compravam roupas prontas. Não se usava malha. Em compensação, o algodão, o linho, a seda eram puros e duráveis. Mas a renda não era grande, não. Para a comadre, os afilhados, os primos, o serviço não era cobrado. E foi nesse tempo bom que um casal veio de Cachoeira de Minas para morar aqui. Ela manejava a máquina com maestria. Costurava e bordava. E aqui teve a grande ideia de confeccionar enxovais para batizado de bebês. O produto foi tão bem aceito que ela precisou de ajudantes. Começou contratando algumas costureiras e ensinando. Porém, o sucesso foi tanto que teve que abrir uma fábrica. A mulher santa-ritense teve a sua chance de trabalhar e ganhar um salário, de aprender a utilizar a máquina para bordar e costurar lindas camisolinhas de batizado. Logo choveram encomendas de outras cidades e as peças da Fábrica Marlene começaram a correr o Brasil. Tudo sob a supervisão de uma pessoa habilidosa, determinada, simpática e bondosa, que se chamava Dona Maria Antonieta Matos Matragrano. Seu esposo, Sr. Bruno Matragrano, foi seu incentivador e apoio seguro e também os filhos Hilton, Francisco (Bibi), Walter e Bruninho. A única filha deu nome à fábrica. Deve ter bastante orgulho de ter tido a mãe que teve. Parabéns, Marlene! A fábrica funcionou por muito tempo, com sucesso e, ao surgir a malha no mercado, e caindo de moda os enxovaizinhos, foi preciso fazer uma adaptação. Estou fazendo, aqui, uma homenagem a uma mulher que sempre admirei pelos seus dotes pessoais e pela capacidade de transformar a realidade de outras mulheres, num tempo em que isso parecia impossível. Dona Antonieta, a senhora foi uma mulher especial. Eu sempre a admirei!
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