Boteco é um lugar arretado. Nele, você faz amigos, proseia e se relaciona com pessoas de todos os naipes, idades e pontos de vista. Bem diferente dos barzinhos, onde cada grupinho fica isolado em sua ilhota particular, no bote todo mundo dá palpite, tira sarro e até conta mentiras. O balcão é o ponto de convergência. A cerveja, elemento fundamental da confraternização, é quase sempre acompanhada de um torresmo, chouriço ou língua. Batata frita, nem pensar! Batatinha é coisa de barzinho. Em boteco o sistema é outro. Rola bife acebolado, calabresa, fígado e outros petiscos que reduzem a vida útil mas aliviam a pressão. Como nas rodas que se formam nos botecos o que reina é o exagero, comparar Senna a Hamilton é tão comum quanto a rivalidade entre Biro-Biro e Maradona que se transformou em mote para propaganda de TV.
Não faz muito tempo, eu estava em um desses botecos trocando ideia com alguns senhores quando o assunto descambou para a política. Alguém comparou Lula a Getúlio, outro lembrou JK, alguém disse que bom mesmo era o Obama e a conversa foi atravessada até que um senhorzinho que fazia hora no balcão calou de vez a plateia: governante bom foi o tal do Xuxo!
– Quem? – perguntou um sujeito que fumava Derby na calçada.
– O Xuxo! Aquele sim foi líder de verdade! – respondeu o homem, convicto.
Eu não aguentei… “Você está falando do cachorro da Xuxa?”
O homem olhou brabo, mirou meu bucho com o rabo do olho. Pensou em me mandar para o quinto dos infernos, mas manteve a linha para não estragar a noite.
– Logo você que tem jornal, sabe bosta nenhuma de história? Estou falando do Xuxo da Inglaterra! Aquele sim foi presidente de verdade!
E o dono do bar interrompeu. “Ah… O Churchill! Primeiro ministro da Inglaterra!”
– Isso! – disse ele. – O Xuxo! Melhor presidente que o mundo já teve!
E todos caíram na risada.
Contrariado, o homem pagou a breja, botou a viola no saco e saiu sem dizer nada.
(Por Carlos Romero Carneiro)