Das Guerras Napoleônicas ao Sul de Minas: a Saga do patriarca da família Rennó

De um ducado alemão a Santa Rita do Sapucaí, a história do médico militar que trocou a guerra pela paz das montanhas mineiras

A história de Santa Rita do Sapucaí e do Sul de Minas Gerais se entrelaça com a vida de personagens ilustres e pioneiros que ajudaram a moldar a região tal como a conhecemos. Um desses nomes é João Rennó de França, nascido como Johann Christian Gottlieb Rönnow, em 17 de dezembro de 1790, na cidade de Ludwigslust, no então Ducado de Mecklenburg-Schwerin, território da extinta Prússia que viria a integrar a atual República Federal da Alemanha.

Filho de Johann Christian Conrad Rönnow e de Christina Maria Eleonora Evers, o jovem Johann cresceu sob a influência da cultura burguesa e da nobreza local, frequentando os ambientes ligados ao Palácio Ducal, graças à atuação do pai como soldado e cabeleireiro. Seu batismo, realizado três dias após seu nascimento, aconteceu na Igreja Luterana da cidade. Foram seus padrinhos: o Mestre Cozinheiro Johann Gottlieb Eifenberg; o Pintor do Paço, Johann Heinrich Suhrlandt; Madame Ecke e o Padeiro do Paço, Chistian Breuel. O pastor Beyer fez o batizado.

A infância de Johann Christian Gottlieb Rönnow foi, provavelmente, tranquila, protegida pelo aconchego da família burguesa em que nasceu. As profissões de seu pai permitiam, além do sustento da família, o convívio com a classe nobre e o trânsito pelo Palácio dos Duques, em torno do qual vivia a pequena cidade de Ludwigslust.

Palácio de Ludwigslust.

Guerra e ciência: o médico militar

Quando nasceu o patriarca, a Alemanha que hoje conhecemos ainda não existia. Naquele distante 1790, a cidade de Ludwigslust era a sede do Ducado de Mecklenburg-Schwerin, um pequeno estado independente, entre centenas de outros, que hoje formam a República Federal da Alemanha.

A juventude de Johann Rönnow coincidiu com o furacão político e militar que varreu a Europa durante as Guerras Napoleônicas. Ele teria cursado medicina — possivelmente na Universidade de Rostock — e se alistado como oficial-médico no exército prussiano, chegando ao posto de capitão. A participação nas batalhas, os horrores da guerra e a reorganização política da Europa o teriam levado a tomar uma decisão radical: deixar o continente em busca de um novo começo.

Imigração e recomeço no Brasil

A bordo do navio Neptunus, Johann desembarcou no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1817, com o passaporte assinado pouco antes, no dia 30 de abril daquele ano. Segundo relatos familiares, o ex-médico militar percorreu o Norte e o Nordeste do Brasil até se fixar na região Sul, no então vilarejo de Curitiba, parte da Província de São Paulo.

Lá, se converteu ao catolicismo e foi batizado em 25 de julho de 1820, adotando o nome abrasileirado de João Rennó de França — um tributo, segundo algumas versões, à pátria admirada por sua cultura e valores iluministas. Poucos dias depois, em 1º de agosto, casou-se com Anna Joaquina Ferreira, filha de tradicional família portuguesa.

O túmulo do patriarca, João Rennó de França.

Das florestas do Paraná às montanhas mineiras

O casal deixou Curitiba e, após longa viagem, chegou à região do Vale do Sapucaí, ainda em desenvolvimento. No caminho, nasceu seu primeiro filho, Antônio José Rennó, em Castro, em 1824. Pouco tempo depois, o médico e sua família se estabeleceram em Boa Vista do Sapucaí (atual Itajubá, MG), onde adquiriram a Fazenda Palmeirinha, comprada de Padre Cândido José Ferreira. Lá, se consolidou o clã Rennó, uma das famílias pioneiras e influentes na formação da sociedade do Sul de Minas. João Francisco Rennó, neto do patriarca, seria o primeiro membro da família a se mudar para Santa Rita do Sapucaí. Casado com Maria Virgínia Palma Rennó, o avô de Sinhá Moreira iniciaria uma trajetória que mudaria os rumos da cidade.

A morte do patriarca

Já em idade avançada, o Dr. João Rennó de França vendeu a fazenda ao filho primogênito e mudou-se para São Bento do Sapucaí (SP). Ali, veio a falecer em 6 de outubro de 1872, aos 82 anos, sendo sepultado com as honras religiosas católicas, conforme atestado por documentos oficiais da Cúria Diocesana de Taubaté. Apesar da importância histórica de sua figura, não há registro do falecimento de sua esposa, Anna Joaquina Ferreira, deixando um vazio nas fontes documentais da família.

Legado em Santa Rita do Sapucaí e região

O nome Rennó se tornou sinônimo de tradição, empreendedorismo e fé no Sul de Minas. Nas décadas seguintes, descendentes diretos de João Rennó de França se estabeleceram em Santa Rita do Sapucaí e contribuíram ativamente para a vida política, econômica, religiosa e cultural da cidade.

Em um momento em que Santa Rita se projeta nacional e internacionalmente como polo de inovação e educação tecnológica, é essencial reconhecer a profundidade histórica das raízes maternas da criadora da primeira escola de eletrônica da América Latina e a importância de sua família para a comunidade local.

(Texto baseado em informações disponíveis no Family Search)

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