(Por Carlos Romero Carneiro)
Há alguns meses, estive em uma escola pública para ver duas palestras sobre as religiões de matriz africana. A primeira, falava sobre os preceitos da Umbanda e, a segunda, discorria sobre o Candomblé. O auditório estava repleto de alunos, a maioria formada por jovens que trabalham durante o dia para estudar à noite e percebi que o receio inicial dera lugar à curiosidade e, bem depois, ao respeito. Aos poucos, aqueles jovens percebiam que o descrédito às religiões de matriz africana, era – na verdade – um preconceito contra o próprio povo negro, ainda tão desrespeitado, perseguido e ridicularizado. E os risos iniciais deram lugar ao silêncio por desvelar algo que está entranhado em nossa sociedade. A jocosa expressão “Chuta que é macumba” é, na verdade, uma manifestação de racismo estrutural. As pessoas usam o termo como forma pejorativa por não se darem conta de que ela expressa a perseguição sofrida pela cultura de origem africana, por séculos.
O que acontece com as religiões de matriz africana, aconteceu com o samba, onde as rodas não podiam ser promovidas duas vezes em um mesmo lugar para que seus adeptos não fossem presos. Com a capoeira foi a mesma história… era encarada com maus olhos e coagida pelas autoridades. Pura ignorância… Poderíamos citar o jongo, dança africana de louvação aos ancestrais e, mais recentemente, o funk, manifestação das periferias. O fato é que é preciso despertar a consciência de que ainda existe muito preconceito por parte da nossa comunidade.
A tão bem-vinda reflexão promovida pela Escola Estadual Sanico Teles demonstrou através de suas palestras que “macumba” é somente um instrumento musical, parecido com o reco-reco, usado nos terreiros de Umbanda e de Candomblé, onde divindades, falanges e orixás são cultuados.
É necessário muito debate e conscientização – principalmente entre as crianças – para que as pessoas entendam que “chutar macumba” significa desrespeitar uma religião que, por não compreenderem, julgam ser algo maligno ou contrário às suas crenças. E mesmo que seja contrário às suas crenças, as pessoas precisam aceitar que a diversidade e o respeito pela fé dos outros devem ser sempre preservados. Caso contrário, alguém poderá ver algo impróprio em sua concepção e – por ignorância e desconhecimento do que diz – chamar de “macumba”, de forma irônica e desrespeitosa. Nesse caso, só Deus e o Ministério Público na causa.