O milho estava no ponto de pamonha, e a ensilagem para guardar a forragem para o gado de leite acabara de começar. Os bois de carro traziam os pés de milho para serem picados na picadeira. A silagem era despejada nos silos cilíndricos enquanto era pisada pelos funcionários e pelos filhos para expulsar o ar e garantir uma boa fermentação.
Ficávamos rodando em círculos, pisando sem parar, dando cambalhotas, empurrando os outros; cair na forragem picada não machucava, era divertido…
A única coisa ruim era quando caía uma garfada de forragem, jogada do alto, em nossas cabeças, e entrava pelas calças, pelas cuecas, pelas botas…. mas nem pra isso ligávamos muito.
O radinho de pilha pendurado no alto do silo tocando umas modinhas, um balde de limonada de limão rosa bem docinha e uns pães doces com mortadela garantiam nosso ânimo.
Breno estava voltando da Escola Normal dando um gás na sua bicicletinha, ansioso para não perder a farra do enchimento do silo. Já chegando na fazenda passou um avião, se dirigindo para o Campo de Aviação do Balaio. Curioso, foi acompanhando o avião com os olhos e se esqueceu de olhar pra frente.
De repente sentiu uma fisgada terrível no peito, como se algo o estivesse rasgando. E estava mesmo. A bicicleta tinha entrado numa cerca de arame farpado e ele a tinha arrebentado no peito.
Sangrando muito, procurou o papai no silo. Depois de examiná-lo, limpá-lo e ver que não era grave, papai falou para o Breno ir pisando o silo enquanto ele se aprontava para levá-lo ao hospital.
Participando da tão desejada festa de pisar o silo, Breno se esqueceu da dor, e nem queria ir para o hospital quando papai voltou. Era exatamente essa a sua intenção, acalmá-lo. E conseguiu.
Breno levou uns pontos nesse episódio que ficou marcado como “O Acidente de Avião”. Quem pode dizer que não?
