Ao final da década de 1990, a Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa atravessava um de seus momentos mais delicados. Após concluir sua gestão em agosto de 1999, o saudoso padre Mendes deixava para trás uma escola que ele descrevia como um caso de “amor à primeira vista” — sentimento que o acompanhou até seus últimos dias, embora a idade não lhe permitisse retornar a Santa Rita do Sapucaí. Caberia agora à ETE reencontrar sua força para entrar no novo século.
A volta por cima: 2000 marca o início da virada
Com dificuldades financeiras que preocupavam tanto a Companhia de Jesus quanto a comunidade santa-ritense, a escolha do novo diretor precisava ser certeira. E foi. Padre Raul, conhecido por sua visão administrativa austera e por seu comprometimento silencioso, retornou à direção em 1999 para conduzir a ETE FMC novamente ao equilíbrio.
A enchente de 2000
O início da década foi marcado também pela tragédia natural de 2000: a maior enchente da história de Santa Rita do Sapucaí. A água atingiu cerca de 80 cm em vários pontos da escola e destruiu documentos, livros equipamentos e as 986 poltronas do auditório.
Depois da cheia, a ETE iniciou um processo rigoroso de renovação das instalações elétricas e hidráulicas, ao qual se somaram novas reformas: ampliação de salas, revitalização dos laboratórios de Química e Física, construção de quiosques e da guarita.

A missão de Raul
A rotina incansável do Padre Raul foi marcada por noites solitárias e por uma correria pelos corredores que demonstrava urgência e amor à obra que ajudou a criar. Sua atuação não demorou a dar frutos e a instituição recuperou rapidamente a pujança, ganhando fôlego e vitalidade.
A grande virada veio, ainda em 2000, quando a ETE passou a integrar o Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep), garantindo investimentos que somaram R$ 2,26 milhões, entre 2000 e 2004. O convênio, assinado pelo então ministro Paulo Renato Souza, permitiu a atualização dos laboratórios, a compra de novos equipamentos e a criação de iniciativas pioneiras, como uma pré-incubadora tecnológica e uma agência articuladora.

Em 2005, a escola deu um passo inédito: criou o ensino médio regular, abrindo portas para estudantes que buscavam formação acadêmica sólida, com a mesma qualidade reconhecida no ensino técnico.
O trabalho árduo de Raul, porém, foi interrompido em 2006, quando sua morte, aos 79 anos, comoveu antigos e atuais alunos. O diretor, que se tornou ícone de dedicação, deixou a escola preparada para um novo ciclo de expansão e modernização.
Fé e solidariedade como prática educativa
Durante toda a década, a Formação Cristã consolidou-se como um dos pilares da vida escolar. Inspirada na pedagogia inaciana, desenvolveu projetos que aliavam espiritualidade, formação humana e compromisso social.
O maior deles, o SolidariETE, criado em 1992, atingiu patamares históricos na década de 2000 , chegando a quatro toneladas de donativos arrecadados em 2009.
A presença jesuíta se estendia ainda pela Casa de Retiros Nossa Senhora da Paz e pela rotina da capela, que mantinha missas diárias e oferecia um espaço de reflexão e espiritualidade para alunos, funcionários e moradores da cidade.
Padre Guy: coragem, história e liderança
Após a morte de padre Raul, a direção foi assumida por padre Guy Jorge Ruffier, um jesuíta cuja trajetória atravessa continentes e episódios marcantes da história recente do Brasil.
Gaúcho de Rio Grande, ex-aluno do Colégio Santo Inácio, professor desde jovem e testemunha ocular dos eventos que antecederam o Concílio Vaticano II, Guy trazia no currículo episódios que iam da locução na Rádio Vaticana à repressão militar no Rio de Janeiro, quando foi preso em 1968 durante manifestações após a morte do estudante Edson Luís.
À frente de grandes colégios jesuítas e marcado por uma vida de coragem e enfrentamento, padre Guy assumiu a ETE em 2006 com a missão de unir a comunidade interna e honrar o legado deixado pelo amigo Raul. Sua gestão fortaleceu a visão de educação integral, o diálogo com a tradição jesuíta e a estabilidade institucional.

Uma década de superação e reinvenção
Ao longo da década, a ETE FMC se reergueu de crises, atravessou enchentes, ampliou cursos, fortaleceu sua identidade jesuíta, investiu em tecnologia, acolheu novos estudantes e reinventou sua própria forma de atuação. A soma dos esforços de padres, professores, funcionários, alunos e parceiros fez com que o projeto de Sinhá Moreira encontrasse renovada vitalidade de 2000 a 2010 e desse um importante salto qualitativo. A escola entrou no século XXI não apenas fortalecida, mas transformada e pronta para as inovações que viriam a seguir.

































