(Por Ivon Luiz Pinto)
Resolvemos fazer uma pamonhada na roça, para toda família e mais alguns convidados.Lá fui eu para Cachoeirinha preparar a terra, colocar nutrientes, fazer covas e colocar nelas as sementes de milho, três em cada cova. Agora era esperar e acreditar que a semente soltaria raízes, se fixaria no solo, romperia a terra e se ergueria num belo bastão verde cheio de folhas largas com um penacho lá no alto. Desse caule brotariam espigas envoltas em palhas e que se transformariam na deliciosa pamonha, depois de ralado o grão.
A semente tem a força dentro de si mesma e não depende da mão que a lançou ao solo. Depende do solo, como na parábola bíblica do semeador, e de sua capacidade de germinar. Se a semente é boa e a terra fértil a colheita será extraordinária.
Os índios criaram uma lenda com base no formato do pé de milho, dizendo que ele é o resultado de um valente guerreiro que foi morto na batalha. De sua sepultura floresceu uma planta que era semelhança do guerreiro, alto com cocar na cabeça e largas lanças de combate. De seu corpo saíam grãos unidos e doces que mastigados se transformaram numa bebida embriagante e de espírito forte.
O agricultor é um homem de esperanças fazendo sempre uma profissão de fé, acreditando que a planta vai nascer, e vencerá as ameaças das geadas e das enchentes, lutará contra o sol escaldante e a falta de água, vencerá as larvas e os insetos predadores, e se tornará fruto, mil por um como diz o evangelho. Somente uma pessoa sonhadora pode fazer um ato de fé tão completo como o agricultor. Por acreditar na colheita futura podemos dizer que ele é também um visionário, um vidente que todo dia procura sinais no céu que lhe indique a chegada das águas ou tempo das geadas.
O homem do interior, lá da roça, entende mais de meteorologia do que os institutos especializados e prevê, com precisão, as variações do tempo.
Assim somos nós, agricultores a lançar a sementinha nova, delicada, na esperança de que se transforme em fruto sadio, sazonado, belo ao olhar, doce ao paladar, vitorioso na luta contra as intempéries da caminhada.
Assim é a palavra e a boca. O que torna a palavra forte é a verdade que nela está presente e não o colorido dos lábios que a pronunciam, nem a beleza dos olhos que a contemplam. Já ouvi sabedorias e ciências pronunciadas por bocas sem dentes, rosto enrugado pela ação do tempo e lábios sem atrativos.
Na música Palavra Boa de Pe. Zezinho ele diz que precisa de uma palavra boa, mas que não pode ser qualquer uma, tem que ser cheia de luz. Não se refere a quem a canta ou a diz, ele enfoca a palavra dizendo que precisa da palavra de Jesus.
Assim como o agricultor que lança na terra uma semente boa e saudável, nós temos a obrigação de lançar a palavra boa, amiga e transformadora para que crie frutos sadios e que seja gravada na alma e no coração.