(Por Carlos Romero Carneiro)
Das construções mais relevantes de Santa Rita do Sapucaí, várias foram executadas por uma personalidade pouco reconhecida, mas que participou de um impulso desenvolvimentista sem precedentes em nossa história. Se hoje somos reconhecidos como um centro de inteligência e inovação, deve-se ao fato de que – lá na primeira década do século passado – um investimento substancial em educação deu origem à nossa vocação para o conhecimento. E para que este impulso acontecesse, seria necessário criar prédios escolares e obras de infraestrutura, além de edifícios públicos e privados que dessem suporte ao plano que aqueles empreendedores estavam dispostos a implementar. Nesse contexto, uma figura seria imprescindível na realização do projeto, embora o seu nome tenha sido, praticamente, apagado de nossa história, nas décadas seguintes.
Poucos sabem, mas os prédios da E.E. Dr. Delfim Moreira (Grupão), da E.E. Sinhá Moreira, o edifício do Fórum, o IMEE (atual Inatel), o antigo Hotel Mello (atual Real Palace), o muro de pedras entre o posto de saúde e a Escolinha de Fátima, além de outras diversas edificações, foram erigidos por um mesmo construtor: Misael Augusto Pinto. Dá para acreditar que o homem responsável por todas estas construções ainda não tem nenhuma referência na cidade? Até onde sabemos, não há nenhuma rua, avenida, prédio, órgão público ou praça em memória a esta personalidade que deixou a sua marca em algumas das principais edificações do município.
Ao que se sabe, Misael veio para Santa Rita a convite de Francisco Moreira da Costa. Casado com Elisa Carneiro de Paiva, tinha na esposa importante referência entre algumas das famílias mais tradicionais da região. O patriarca dos Moreira – Antonio Moreira da Costa – pai de Francisco Moreira, fora praticamente criado pelos Carneiro Santiago (na vizinha Cristina) e, sendo a esposa do construtor integrante desta família, tal proximidade pode ter facilitado a sua vinda ao município.
A equipe trazida por Misael para executar as construções contava com o seu concunhado, Bernardino Lemos Simões, que atuava como eletricista num tempo em que tal profissão ainda era incipiente. Casado com Francisca Carneiro de Paiva, Bernardino também traria a sua família para a cidade e ajudaria Misael a realizar importantes projetos. Caberia também ao eletricista, nos meados da década de 1920, administrar o Esguicho (obra de aterramento do centro), que mudaria – para sempre – o panorama de Santa Rita. Até os dias de hoje, também não há muitas referências a Bernardino.
Nos anos seguintes, não somente Misael, como os seus descendentes seriam decisivos para o progresso da comunidade. Seu filho, Adelino Carneiro Pinto, formara-se na Escola de Farmácia e Odontologia de Ouro Fino, em 1915, e viria a se tornar diretor do Instituto Moderno de Educação e Ensino (IMEE), além de ser reconhecido como “O pai dos pobres” pela forma caridosa e humana com que lidava com os seus pacientes. O neto de Misael e também farmacêutico, Ruy Carneiro Pinto, seguiria os passos de sua família, destacando-se como uma personalidade muito querida por todos. Mas, como ele mesmo costumava dizer, “O tempo apaga tudo.”
Soube, através de uma obra sobre o centenário da E.E. Dr. Delfim Moreira, que Misael também foi delegado em Santa Rita do Sapucaí e que a sua filha, Maria Carneiro de Paiva, lecionou no grupão até setembro de 1960. Que através de referências e pesquisas, possamos reverenciar a memória destes grandes homens esquecidos.