O Sapucaí
Em 1920, o rio Sapucaí tinha um leito muito maior do que aquele que atualmente conhecemos, em função do posterior barramento da Usina Hidrelétrica de Furnas, nos anos 50. Segundo informações atuais do Comitê da Bacia Hidrográfica, o rio Sapucaí nasce na Serra da Mantiqueira, na cidade de Campos do Jordão, no estado de São Paulo, a uma altitude de 1620m, e deságua no Lago de Furnas, em Minas Gerais, a 780m. Neste trajeto percorre, aproximadamente, 248 km. A parte mineira da bacia do rio Sapucaí abrange, hoje, 48 municípios. A parte paulista compreende três municípios: Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí e Santo Antônio do Pinhal (CBH-SAPUCAÍ, 2013).
Segundo o Annuario Estatístico (Tomo I) referente a 1921 e publicado em 1924, a extensão do rio Sapucaí era de 490 km e os municípios banhados por ele eram: Itajubá; Villa Braz (hoje Brazópolis); Pedra Branca (Pedralva); Paraisópolis; Santa Rita (Santa Rita do Sapucaí); Pouso Alegre; Silvianópolis; São Gonçalo; Machado; Paraguaçu; Elói Mendes; Três Pontas; Campos Gerais; Alfenas; Carmo do Rio Claro; Boa Esperança e Passos.
A navegação do baixo Sapucaí
A navegação do rio Sapucaí é tema controverso no qual se misturam memórias e fatos históricos, muitas vezes compilados sem a devida verificação em fontes primárias. Neste texto, priorizamos a elucidação do tema a partir do cotejamento e confronto de fontes como legislação, almanaques, mensagens dos presidentes de província do período e, em especial, o Album Chorographico.
Almanack Sul-Mineiro (1874)
O Almanack Sul-Mineiro de 1874, organizado por Bernardo Saturnino da Veiga, informava sobre o tráfego de mercadorias pelo rio Sapucaí e descrevia os trechos navegáveis: “Deste rio, no futuro, a província de Minas se utilizará para navegação; então, quando raiar esta época no horizonte mineiro, a prosperidade, riqueza e agricultura muito florescerão para os municípios do sul desta província. A navegação no Sapucahy não é problema de intrincada solução.
É notável o Sapucahy por ser um dos rios mais caudalosos de Minas e que, na nossa geographia, merece um lugar mais esclarecido, não só pelas vantagens que pode offerecer, como também por ser o primeiro confluente do rio Grande, na província de Minas (VEIGA, 1874, p. 24; 25).”
Visão de Silvestre Ferraz sobre o transporte na região
O deputado Silvestre Ferraz, argumentando sobre a riqueza dos municípios sul-mineiros de Cristina – sua terra natal – Itajubá, São José do Paraíso e Pouso Alegre, a ser transportada pela estrada de ferro Sapucahy [ainda inexistente], concluía, em seu discurso de 15 de setembro de 1883, na Assembléia Provincial Mineira:
“Se juntarmos a isso a importação e exportação do município de São Gonçalo [do Sapucaí] que vai ser servido pela navegação do rio Sapucahy e que dê preferência à viação fluvial, que é muito mais barata, e os de Ouro Fino e Caldas, este algarismo se elevará a 40 mil toneladas.” (ANNAIS da Assembleia Provincial de Minas Geraes. 15 set. 1883. p. 347. Apud COSTA, 1985, p. 52/53) (grifo nosso).
Porto Sapucaí
Iniciou-se em novembro [de 1910], com duas lanchas a vapor que, importadas, custaram 35:977$560, o tráfego fluvial do rio Sapucaí, a partir do Km 237, onde foi edificada a estação de “Porto Sapucaí” [no município de Santa Rita do Sapucaí], até o porto de “Paredes” [hoje, município de Cordislândia], com extensão de 132 km. Convém assinalar aqui que, logo nos primeiros meses do ano seguinte, essa navegação já se estendia até o porto de Cubatão [no atual município de Paraguaçu], no Km 160 do rio (LIMA, 1934, p. 100).
Victor da Silveira, no livro “Minas Gerais em 1925”, informava sobre o transporte fluvial do Sapucaí:
“Além da navegação nos rios São Francisco e Paracatu, ‘que são bastante importantes’, existe, no estado de Minas, transporte entre o Porto Sapucahy [em Santa Rita do Sapucaí] e o Cubatão [em Paraguaçu], com 160 Km, explorado pela Rede Sul Mineira. Há, também, navegação de Fama a Porto Carrito [Carmo do Rio Claro], com 100 Km, mantida pela “Navegação Fluvial do Rio Sapucahy”. A navegação de Ribeirão Vermelho a Capetinga[13], no Rio Grande, com 208 Km, é de propriedade da E. F. Oeste de Minas (SILVEIRA, 1926.p. 472).
Estudo feito por Maria Lúcia Prado Costa para a Fundação 18 de março e publicado no site do “Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Gerais”.