(Ivon Luiz Pinto)
Sempre me comovi com a orientação que Cristo deu no último evangelho afirmando que havia muitas moradas na casa do Pai (Jo 14,2). Para mim, leigo e analfabeto em teologia, essa afirmação indicava que nós cristãos teríamos lugar no paraíso. Isso era incontestável. O Gênesis, primeiro livro da Bíblia, diz que Deus criou o homem a sua imagem e semelhança (Gn 1,26 ; 2,7). Não diz o texto sagrado que Ele o criou com alguma cor, branco ou preto, ou azul ou vermelho. Ele criou o HOMEM. Para Ele não há distinção entre branco e preto, homem e mulher, cristão ou não cristão.
Deixando a fenomenologia de lado, pois ela só atrapalha o meu entendimento, eu creio que essas moradas são mais abrangentes e que muitas outras pessoas possam ter o alcance celestial. Uma pessoa que vive em um mundo diverso do nosso, numa tribo por exemplo, e que nunca ouviu a proclamação do evangelho, mas que é pura de coração, tem uma vida sem maldade, terá, inquestionavelmente, a salvação.
O judeu, convicto e religioso, que não deseja o mal, respeita seu irmão e tem uma fé profunda no Deus de Abraão, estará no Reino de Adonai, mesmo não tendo oportunidade de fazer orações no Kotel, o muro das lamentações. Deus sempre olha para a vida e para o coração do homem.
São Paulo lembra que Deus nos gerou e somos filhos dele (Sl 2,7). Essa afirmação tem um cunho de universalidade. Todos somos irmãos, não há estrangeiros na agenda de Deus.
Deus recolhe com carinho os atos de humildade e pede que sejamos como os pequeninos, que só para Ele sejam nossas orações e sacrifícios de jejum.
Logo após a Ressurreição de Jesus o Espírito Santo envolveu os discípulos que estavam em oração e eles, com fortaleza e destemor, pregaram a palavra para uma multidão de estrangeiros que estava em Jerusalém e cada pessoa, de lugar e raça diferente, a entendeu em sua própria língua. Deus não discriminou ninguém. Todos ouviram a mensagem. Há um só Deus e um só povo.
Para Deus o coração que é importante, não o coração físico, fisiológico que cheio de sangue pulsa em nosso peito, mas o coração de bondade, de amor, que não tem rancor, que é paciente, que tudo crê e tudo suporta ( I Cor 13, 4-7).
Os judeus tinham o costume de se vestir de sacos e colocar cinzas na cabeça para mostrar que estavam jejuando e no templo ou sinagoga rasgavam as vestes para mostrar que eram puros, embora discriminassem e perseguissem os que não concordavam com eles. O profeta Isaias condenou os fingimentos de honrar a Deus só com os lábios e ensinar preceitos que não eram de Deus (Is 29,13).
Combatendo essa atitude, Jesus disse que o que mancha o homem não é aquilo que entra pela boca, mas o que sai do coração. Por isso o profeta Joel anuncia “Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes; e retornai a Jeová, vosso Deus.” (Jl 2,1.3).

































