Presença indígena no sul de Minas Gerais

(Por Gustavo Uchôas Guimarães)

O sul de Minas tem cerca de 2000 pessoas que se declararam indígenas no Censo 2022, realizado pelo IBGE. São pessoas que vivem em diversas situações: estão nas áreas rurais e também nas urbanas, têm um ritmo de vida semelhante a todas as demais pessoas, têm (em maior ou menor grau) consciência de sua origem indígena (nem que seja somente a clássica e triste história da “avó pega no laço”). A única aldeia organizada no sul de Minas, atualmente, é do povo Xukuru Kariri (originário de Pernambuco), na área rural do município de Caldas. Olhar estas presenças atuais é entrar em contato com a realidade de que os povos indígenas, apesar das violências históricas, não se extinguiram como querem dizer vários escritores dos últimos séculos. Se nos aprofundarmos, por exemplo, nos escritos de historiadores e memorialistas sul-mineiros, veremos um apagamento das identidades indígenas através da omissão de relatos, da substituição de nomes (ao invés de tratar dos indígenas, muitos falavam em caboclos ou “diluíam” os indígenas entre os pardos), entre outras práticas herdadas do período colonial, quando, por exemplo, o Diretório dos Índios (1755) quis apagar culturas indígenas impondo a obrigatoriedade do catolicismo e da língua portuguesa a todas as populações indígenas das terras dominadas por Portugal, no continente americano.

Na formação da nossa região, a identidade do “homem sul-mineiro” foi moldada por elementos diversos, incluindo os indígenas. Isto pode ser visto em práticas agrícolas, na maneira de falar, nos nomes dados a localidades, na culinária, entre outros aspectos culturais que precisam ser valorizados e precisam ser atribuídos aos povos indígenas dos quais se tem notícia na história sul-mineira. É muito vago falar em “folclore brasileiro” ou em “cultura brasileira” sem dar os devidos créditos a quem contribuiu para a nossa diversidade, especialmente os africanos e os indígenas, cujas culturas foram, muitas vezes, ressignificadas pelos europeus e seus descendentes no Brasil, mas sem a devida valorização e o necessário reconhecimento.

Nos últimos anos, trabalhos vêm sendo desenvolvidos para “dar ouvidos” às vozes indígenas da história sul-mineira. Em Varginha, por exemplo, o trabalho do arqueólogo Otávio Augusto Pereira Freitas e do historiador Gustavo Uchôas Guimarães deu origem ao projeto “Cataguá nas Catanduvas”, que faz um levantamento de dados arqueológicos e históricos da presença indígena em Varginha e arredores, inclusive com recentes parcerias com outros pesquisadores, o que estenderá o campo de atuação e enriquecerá o trabalho de pesquisa, de produção e de debates a respeito da presença indígena regional.
À população sul-mineira, cabe perceber e valorizar sua identidade cultural, incluindo a indígena, assim como cabe ao Poder Público promover as histórias e culturas indígenas através de seus “braços” (escolas, universidades, fundações culturais, secretarias, entre outros). Assim, realmente haverá mais sentido em se lembrar e celebrar o Dia dos Povos Indígenas.

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA