O Monumento ao Mestre

(Autoria desconhecida)

Ontem, procurei Sinhá Moreira para entregar uma carta quem veio por meu intermédio. Não sei por que veio endereçada a mim, mas me incumbi de levá-la à sua devida dona.

Ao chegar em sua casa, ela abriu a carta e se pôs a lê-la em voz alta. Ficou imensamente comovida.

– É do Xavier…
– Xavier? Não sei quem é…
– Não é do seu tempo. Foi aluno aqui do Ginásio. Veio direto da fazenda para o Colégio.
– Certamente tinha um apelido…
– Tinha sim…. e muito engraçado. Contam que, certa vez, o diretor levou os alunos ao Cine Santa Rita. Cada um recebeu sua entrada.
Quando o porteiro esticou o braço para pegar o ingresso da mão de Xavier, ele pensou que fosse para cumprimentá-lo e apertou a mão do homem, perguntando:

– Cumé que vai? E a famia, tá boa? O pai ta bão?

Ao ouvir aquele causo contado por Sinhá, ri muito e tentei imaginar qual seria o apelido do tal Xavier. Pela carta, percebi que ele havia mudado muito desde os tempos de escola. Suas linhas demonstravam que ele havia se tornado uma pessoa culta:

“Apraz-me entregar às suas mãos de rainha, pois fostes coroada rainha da minha turma de colégio, este donativo de 10 mil cruzeiros para o Monumento ao Mestre. Motivos alheios à minha vontade me impedem de doar uma importância à altura da minha gratidão aos antigos mestres deste educandário, bem como minha admiração por vossa pessoa.

Atenciosamente,
Dr. Xavier
Consultor Jurídico.”

Após a leitura da carta, tentei mudar de assunto, mas a conversa não poderia se desviar do Educandário ou do Monumento ao Mestre. Não resisti à curiosidade e me coloquei a fazer perguntas que Sinhá ia respondendo tranquilamente:

– Onde vai ser o monumento?
– Na Avenida Eletrônica.
– Como vai ser?
– Muito bonito… com frente e costas. Irá representar a instrução. Terá um professor e um aluno.
– Em quanto vai ficar?
– Custará 500 mil Cruzeiros.
– A senhora já tem esse dinheiro?
– Não tenho, mas confio nos antigos alunos que não recusarão ao pedido que fiz. Não vê o Xavier? Fiz também um pedido à prefeitura e à Câmara, composta por muitos ex-alunos ilustres.

E assim, a pedido de Sinhá Moreira, a eterna rainha dos Estudantes de Santa Rita, eu publico os primeiros donativos para o Monumento ao Mestre:

– Doutor Luiz Xavier – 10 mil.
– Dr. Paulo Borges  – 10 mil.
– Dr. Felipe Gorgulho – 20 mil.
– Uma antiga aluna – 2 mil.
– Lafaiete Paduan – 500.
– João de Faria e Souza – 1 mil.
– Dr. José Arthur– 2 mil.
– Dr. Antonio Sandoval – 5 mil.
– Dr. Lúcio Porto – 12 mil.
– Dr. Pedro Pavani – 5 mil.
– Maria Helena Guerzoni – 500.
– Paulo Cezar Andrade – 2 mil
– Alberto Benedito Fonseca – 2 mil.
– Marta Costa Brentan – 1 mil
– João Alberto Brentan – 500.
– José Augusto Telles – 500.
– Dalton Luiz Telles – 500.
– Maria de Lourdes Dias – 1 mil.
– João Machado Homem – 1 mil.
– Francisco Moreira de Andrade – 1 mil.
– Irineu Manoel dos Santos – 1 mil.

Jornal “O Correio do Sul” – 1962.

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