(Por Bruno Bittencourt)
Uma matéria publicada pela revista Placar, em 15 de junho de 1987, narra o início de carreira de Heriberto Cunha, um dos maiores futebolistas santa-ritenses de todos os tempos. Acompanhe esta matéria produzida por Bruno Bittencourt.
A vida desse mineiro de Santa Rita do Sapucaí é mesmo cheia de encontros e desencontros. Aos 16 anos, depois de vender muito frango e sorvete para ajudar os pais – Seu Procópio, um pequeno agricultor, e dona Marice, professora primária – Heriberto Longuinho da Cunha resolveu deixar a sua terra e apostar na carreira de jogador de futebol profissional. Bateu às portas do Cruzeiro mais de uma vez: “Cansei de voltar no dia seguinte”. Frustrado o primeiro sonho, ele entrou num ônibus e tomou o rumo de casa – e do Santa-ritense.
Se o mundo dá voltas, Heriberto também deu as suas. Andou tanto que, quase uma década depois, retornou ao Cruzeiro em circunstâncias bem mais favoráveis. Afinal, o mesmo jogador que um dia se ofereceu de graça, acabou custando 2 milhões de Cruzados ao clube. E não há dúvida de que agora ele é outro homem. Sim, desta vez ele desembarcou com festa. Havia defendido grandes times como São Paulo e Portuguesa e conquistado segurança financeira. “Se quisesse, poderia viver plantando café.” – confessa. Essa hipótese, na verdade, existe. Mas, para a tranquilidade dos seus admiradores e felicidade geral da nação celeste, por enquanto isso ainda está fora de cogitação.
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Heriberto, porém, jamais se esquece de quem lhe estendeu a mão ao longo do caminho. No início, bastaram alguns treinos no juvenil do tricolor paulista para ser aprovado pelo técnico Cidinho. De 1977 a 1979, morou na concentração do Morumbi e concluiu o segundo grau às custas do clube.
Profissionalizou-se em 1980, permaneceu no clube por três anos e recorda com orgulho a conquista do bicampeonato estadual, em 1980 e 1981. Um ano depois, foi vendido para a Portuguesa. No Canindé, teve bons e maus momentos. Não imaginava, por exemplo, que o belo presente de lua de mel dos dirigentes – uma passagem de ida e volta para Portugal – iria lhe causar problemas com a diretoria seguinte. “Quiseram proibir até as minhas velhas amizades no clube, por puro ciúme.” A próxima parada foi o América, do Rio de Janeiro. Mas faltou dinheiro. “Eles contrataram mais do que podiam.” – explica o jogador. Devolvido à Portuguesa, acabou emprestado ao Juventus, para o Campeonato Paulista do ano passado.
Casado há três anos com a paulistana Ione, Heriberto viveu alguns meses no confortável Hotel Normandy, logo ao chegar a Belo Horizonte. Agora, contudo, já está instalado num espaçoso apartamento do elegante bairro Funcionários. Ele costuma se autodefinir como uma pessoa muito simples. “Não ligo para carros e uso um Fiat ano 1983 que, aliás, é da minha mulher.” – revela. “Só faço questão mesmo de morar e de comer bem.”
Heriberto lê romances escritos por Sidney Sheldon e gosta de filmes de guerra e de faroeste. “No teatro, aprecio o humor.” – conta. “Morri de rir com a peça ‘Um gordoidão no país da inflação’, de Jô Soares.”
Já está adaptado com o Cruzeiro? Ele garante que sim. Pelo menos por enquanto, ele não pensa em deixar o Cruzeiro. É que lhe falta alguma coisa: “Quero um título em meu Estado”.
Carreira de atleta
1976 – Iniciou a carreira nas equipes de base do São Paulo.
1979/1984 – Foi profissionalizado e nesse período defendeu o São Paulo.
1984 – Foi para a Portuguesa.
1985 – Atuou no C. A Juventus (três meses).
1985 – Jogou no América Carioca (três meses).
1985/1990 – Nesse período jogou no Cruzeiro.
1990 – Jogou no Santos.
1991 – Foi para o Atlético Paranaense.
1991 – Foi para o Sumitomo Metal (Kashima Antlers).
1992 – Retornou para o Atlético Paranaense.
1993 – Jogou no Mogi-Mirim.