Por Salatiel Correia
Sempre que assisto ao filme que mais me emocionou na vida – “O Homem Elefante” – vou às lágrimas. O filme em questão conta a história de Jonh Merick e o sofrimento que ele viveu, aqui mesmo na Terra, por ter nascido com uma doença congênita que desfigurou seu rosto.
Durante sua caminhada por este mundo, “O Homem Elefante” sofreu agressões físicas. A mãe dele morreu quando ele tinha 10 anos; o pai casou-se de novo e Merick foi rejeitado pela madrasta. Nas ruas, Merick era constantemente humilhado, principalmente pelas crianças, que zombavam de sua aparência de monstro. O descaso das pessoas, o abandono e a solidão fizeram-se bastante presentes na vida de um homem que era, de fato, bom.
Foi então que um cirurgião famoso teve misericórdia daquele ser humano sofrido e acolheu-o em um hospital. Lá ele teve um tratamento mais digno. Devido à sua cordialidade, chegou a frequentar os bailes da era vitoriana (na Inglaterra), mas acabou por ser hostilizado pela população. Morreu dormindo e sonhando com a mãe.
O que mais me tocou nesse grande filme foi o encontro que o homem elefante teve com uma linda e talentosa atriz. A sensibilidade dessa artista ficou evidente por ela ter sido capaz de enxergar o belo que existia em um homem aparentemente monstruoso. E o belo daquele gentil e educado homem estava no invisível que a maioria das pessoas não via. Por trás de uma aparência horrenda, havia uma alma generosa, amiga e, sobretudo, repleta de sensibilidade. Não sei quantas vezes vi, quantas vezes verei e quantas vezes ainda vou emocionar-me com o filme. É uma obra clássica e, enquanto clássica, deve ser revisitada!
A lição que o episódio revela é evidente: quando conseguimos enxergar a alma, nossa vida será sempre melhor. Explorar essa incessante busca do belo nos ajuda a viver com mais leveza. Por pensar assim, creio ser de bom proveito divagarmos em torno do que é a arte. Enxergar além do físico. Posto isso, exponho outras situações em que a busca do belo esteja nos olhos de quem vê.
A cena: diante da lousa, com um pedaço de giz, um velho mestre começa a desenvolver complexas equações matemáticas. Quanto mais o quadro-negro enche-se de equações que brotam de uma imaginação privilegiada, mais cresce o brilho no seu olhar. Com a lousa cheia, chega ele, enfim, onde pretendia chegar – à demonstração de um complexo raciocínio. O mestre manifesta todo o seu contentamento com um soco no quadro. É a maneira que ele encontra para manifestar a emoção de estar vendo uma realidade que poucos conseguem enxergar.
Isso, de igual modo, suscitava-me quando me movimentava, de um lado para outro, admirando a obra-prima de Leonardo da Vinci. Um olhar que traz perplexidade e dúvidas. Um olhar que me seguia, não importava onde eu estivesse. Emociona-me até hoje. Sempre terei dúvidas do que está por trás do enigmático olhar da Monalisa. Sempre que vou a Paris, tenho um encontro certo com essa obra-prima. Talvez, algum dia, possa chegar a alguma certeza. Por enquanto, vou duvidando que esse dia chegue.
Assim, a manifestação do belo está nos clássicos da música e na batuta do maestro que articula a sinfonia da orquestra, na Teoria da Relatividade, de Einstein, em Os Miseráveis, de Victor Hugo, na arquitetura de Oscar Niemeyer, na voz de Elton John… A vida sem a incessante busca do belo é uma vida sem reflexão, que não merece ser vivida.
(Salatiel Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Energia. É autor, entre outros, do livro A Construção de Goiás.)