O esguicho e o aterro da vargem

Bernardino Lemos Simões era o administrador do Esguicho.

(Por Ivon Luiz Pinto)

“Segunda-feira, com a presença de elevado número de acionistas e de pessoas ansiosas por conhecerem o processo de desmonte, do mais moderno, a Sociedade deu começo ao aterramento da várzea compreendida entre as ruas Cel. Joaquim Carneiro de Paiva e Benjamin Constant, sendo o local de desaterramento o situado acima da Santa Casa.” (Correio do Sul, 25 de julho de 1926).

Em 1971, eu fazia parte, junto de Benedito Bustamante Rennó (diretor da E.E. Sinhá Moreira) e de Ilda Carneiro Pinto, da Comissão Municipal de Reforma de Ensino. Nessa época, conseguimos a ampliação da E.E. Sinhá Moreira e a construção de um pavilhão de salas de aula e duas oficinas, uma de marcenaria e outra de técnicas agrícolas. Eu era Vice Diretor do Sinhá Moreira e acompanhei a CARPE na construção desse projeto. Admirei-me ao ver que as escavações e perfurações encontraram cercas de arame farpado, nas profundezas do solo.

Vim a saber que a maior parte desta cidade era formada, desde o seu início, por terrenos alagadiços e brejos. A partir da sede da Cooperativa Agropecuária, notadamente, a região que hoje são os bairros Maristela e Fernandes era terreno perigoso, formado por brejos e alagados, cheio de cobras e jacarés, infestado de mosquitos e que punha em risco a saúde da população.

Morro do Esguicho, com o velho Mercado Municipal, em primeiro plano.

Para acabar com os problemas e dar condições de edificar casas, formou-se, em 1924, pelo sistema de cotas, a Companhia de Melhoramentos Municipais, tendo como presidente o Cel. Francisco Moreira da Costa. Foi comprada em Hamburgo, na Alemanha, uma bomba hidráulica de 200 HP e 17 atmosferas, montada na Av. Antonio Paulino. O plano era cortar o morro que existia atrás da Santa Casa e levar a terra para aterrar as várzeas onde estão, hoje, os bairros mencionados. A água era canalizada do rio Sapucaí, passando pelas ruas Treze de Maio, Francisco Palma e Quintino Bocaiúva, até a base do morro. O mesmo sistema que se usou, mais tarde, na construção da ETE.

O Jornal Correio do Sul, número 606, de 25 de julho de 1926, narra o início do funcionamento da bomba, numa segunda-feira, 19 daquele mês. A energia foi fornecida pela Companhia Força e Luz Minas Sul, que tinha como presidente o Sr. José Andrade Moreira.

Ideal Vieira, no jornal Correio do Sul de 20 de junho de 1965, escreveu: “Em entendimento com o Presidente da Cia. Força e Luz Minas Sul, Sr. José Andrade Moreira, esta Cia. forneceria a força em tempo de 10 horas diárias, mediante a bonificação anual de RS 3:000$000, já que a sua tabela em vigor era de RS 7:000$000, ou seja, RS 84:000$000 anuais (29/07/1926).”

Morro do Esguicho e o “Caminho da Fé”, que levava o morro do Santo Cruzeiro.

As calhas ou bicames saíam do sopé do morro, atrás da Santa Casa, passavam por cima da rua Antônio Moreira e despejavam o barro no local onde, hoje, é a Cooperativa Agropecuária. Dali, era espalhado por toda a região. Por muito tempo, essa região foi chamada de “aterro” e, ainda hoje, o morro do desmonte é conhecido como “Esguicho”.

Em 1958, dona Sinhá Moreira quis utilizar o local desaterrado para instalar a Escola de Eletrônica que ela tinha fundado, chegando a lançar a pedra fundamental naquele lugar. Como, depois, preferiu instalar a ETE na planície perto da Lagoa do Bicho e necessitou aterrá-la, cortou o morro, com máquinas e tratores, e transportou a terra para a vargem da Lagoa. Para isso, montou a Companhia de Terraplenagem Vista Alegre. Por muito tempo o morro exibiu os sinais de terraplanagem e serviu de espaço para se soltar pipas e de passagem para alcançar o cruzeiro. Chegou a ser chamado de “Caminho da fé”. (Por Ivon Luiz Pinto)

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