Por Marquinhos Souza
Tudo começou como uma simples brincadeira entre amigos. Era o início da década de 1990, e Santa Rita do Sapucaí vivia seus dias de juventude efervescente. No quintal da casa de Heryk — hoje a pizzaria La Fornalha — três adolescentes, embalados por Titãs e Legião Urbana, começaram a tirar seus primeiros acordes. Ali, Heryk, Luciano Adami e Marquinhos Souza plantavam a semente do que se tornaria uma das bandas mais marcantes da história musical da cidade.
Liberdade Vigiada
Antes mesmo dos palcos, o trio já se arriscava no ar. Criaram a rádio pirata “Liberdade Vigiada”, transmitindo diretamente do alto do morro do INATEL, em 89.1 FM — uma clara homenagem à lendária 89, “A Rádio Rock” de São Paulo. O programa “As 3 Mais”, apresentado por Marquinhos, Juninho Gabina e Gustavo Santos, fazia sucesso entre os jovens, difundindo o rock em uma cidade dominada pelo sertanejo e pelo dance music.
O nome da rádio acabou batizando a primeira formação da banda. De início, tudo era pura diversão — mas o entusiasmo crescia a cada ensaio, principalmente nas reuniões na casa do baixista Juninho, na Praça Vista Alegre.

O nascimento de uma banda
O grupo ganhou forma quando o carismático Marcelinho Cardoso, então jogador de vôlei do Juventude (time juvenil do Country Club), aceitou o convite para ser vocalista. Pouco depois, Márcio Vilela, ex-jogador de vôlei e guitarrista de talento, juntou-se à turma. A entrada dele mudou tudo. O som ficou mais encorpado, os ensaios se intensificaram e, finalmente, surgiu o primeiro convite para tocar em público: o Festival da Canção da ETE (FECETE) de 1992.
O show foi um sucesso. E logo veio outro convite — o lendário Rally de Regularidades do Kplinha, com palco montado em frente ao Estádio Erasmo Cabral. Ali, com a participação do jovem tecladista Ticiano Abreu, o grupo consolidou seu espírito criativo e seu amor pela música.
Luxúria
Em 1993, após algumas mudanças na formação e a saída de Ticiano, a banda procurava um novo nome. Durante uma conversa em uma barraca da Festa de Santa Rita, o guitarrista Márcio lançou o nome Luxúria — e o brinde foi imediato.
Com o novo nome e outras ambições, a banda estreou oficialmente na “Noite do Bixo” do D.A. Inatel, conquistando o público universitário. Pouco depois, chegaram dois reforços: Carlão Vilela, jovem guitarrista de talento promissor, e Eduardo (“Ed”, de Volta Redonda), tecladista refinado. O Luxúria se tornava um sexteto de respeito.

O auge
Entre 1995 e 1996, o Luxúria atingiu seu auge. Os shows no D.A., nas festas da cidade e nos eventos universitários ficaram marcados pela energia contagiante e pelo repertório ousado — Offspring, Steppenwolf, clássicos do rock que incendiavam o público.
Na Festa de Santa Rita de 1996, o grupo viveu seu grande momento: o palco montado onde hoje é o Ginásio Alcidão reunia uma multidão que pulava, cantava e levantava poeira ao som da banda. “Eles fazem o que gostam, e a galera responde”, dizia o amigo Kiko Ribeiro.
A pausa e o legado
Com o fim da faculdade e os caminhos profissionais se abrindo, vieram o cansaço e a distância. Marcelinho mudou-se para São Paulo, Marquinhos para Campinas, Luciano para Indaiatuba, Carlão para Belo Horizonte e, mais tarde, o próprio Marquinhos para o Canadá. A banda passou a se reunir apenas ocasionalmente — mas, quando isso acontecia, o brilho e a sintonia continuavam intactos.
Hoje, todos seguem suas vidas, casados, pais de família, espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Ainda assim, de vez em quando, os integrantes do Luxúria se reencontram para celebrar o passado, tocar juntos e lembrar da época em que o rock unia uma geração.
A história da Luxúria é mais do que a de uma banda. É a memória viva de uma cidade e de um tempo em que fazer música era sinônimo de liberdade. Uma história que — como o próprio Marquinhos diz — merecia mesmo virar livro.
