Em busca da felicidade

(Por Ivon Luiz Pinto)

Eu sempre desejei ser feliz e a procurei por todos os caminhos. Creio que todos também querem e procuram a felicidade. Não foi fácil atender e aceitar o processo da felicidade.

Na minha juventude, lá no alto da Serra da Mantiqueira, eu vivi vários aspectos da felicidade. Era, para mim, aquela sensação de prazer ao jogar bola na rua, de bater bete, pular corda e jogar bolinha de gude. Era uma felicidade passageira e transitória que eu colhia, todo dia, como um jardineiro que sempre colhe a mesma flor.

Eu sonhava com uma bicicleta igual a do meu irmão. De vez em quando ele deixava eu usá-la e era uma alegria poder sair pedalando pela cidade. Isso era felicidade e eu pensava que felicidade maior era ter uma só para mim.

Quando fui estudar fora, em outra cidade, meu irmão emprestou a bicicleta para ficar mais fácil ir à aula. De início, fiquei muito feliz e exibi o meu veículo com satisfação e, mais tarde, entendi que era uma felicidade passageira. A felicidade plena não estava em andar de bicicleta ou brincar na rua. Tudo isso é bom, mas satisfaz por pouco tempo.

Só quando me casei é que passei a compreender que a felicidade está na cumplicidade do amor entre duas pessoas. Os bens materiais, os estudos, o dinheiro dão uma sensação de prazer, mas não preenchem o vazio interior, não são felicidade.

Quando estava com ela eu era tão feliz que pensava que a vida todinha seria assim, um prazer e sensação leve de estar na eternidade. Isso era forte e parecia natural. Só depois que a perdi é que veio a compreensão de que a minha vida tinha sido feliz. A compreensão da felicidade veio com a perda. Eu era tão imerso na felicidade que não atinava que pudesse haver uma vida diferente.

Prazer e felicidade são bem diferentes, embora, em algumas circunstâncias, se alimentem um do outro, como parasitas que estendem seu haustório, uma na outra. O prazer está relacionado com nossos sentidos físicos e nos dão satisfação temporária. Um cacho de uva, um passeio, ir ao show, são coisas agradáveis, mas seu prazer acaba quando degustamos o último bago da uva, ou encerramos o passeio e quando se apagam os sons do show. Fica a sensação de que houve algo prazeroso.

No entanto, quando a gente ama a satisfação é completa e a gente se sente como um canarinho de cabeça vermelha cantando aleluia e isto é felicidade plena. Ela é permanente. Contudo, por causa de nossa humanidade incompleta, por estarmos em contínua maturação, temos dificuldade em realizar essa plenitude.

Francisco de Assis, no Monte Alverne, abre os braços e louva a Deus por toda a criação. Nesse momento, a sua felicidade é completa, mesmo exibindo as chagas doloridas. A felicidade não está no corpo perfeito e sem dor. Ela é o alimento do espírito e da alma. A falta de sofrimento e de dor não é sintoma de felicidade.

Quando uma pessoa amada parte para a casa do Pai, quando ela deixa seu corpo humano e se eleva para a plenitude de Deus, ela é verdadeiramente feliz.

Quando a gente sente a dor dessa partida e sofremos lágrimas de saudade, nós também somos felizes. Recordar presenças e guardar lembranças da vida é uma maneira de ser feliz, não todo tempo, mas de um modo todo particular e intenso. É expurgar a saudade.

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