Como era Santa Rita do Sapucaí em 1913

A edição número 1127 do “Correio do Sul” comemorou os 25 anos do jornal fundado por Leopoldo de Luna e Francisco Falcão. Publicado em 18 de maio de 1937, o semanário trazia na capa uma reprodução do seu primeiro número e relatava como a cidade era naquele início de século. Veja, a seguir, o relato de um dos fundadores sobre este acontecimento histórico:

(Por Francisco Falcão)

As cidades, como os homens, também têm uma fisionomia suscetível a mudanças, com o passar do tempo. Em 1913, a cidadezinha de Santa Rita debruçava-se sobre o Sapucaí, com suas modestas edificações e com os hábitos simples de seus filhos. As ruas eram quase intransitáveis e não havia serviços básicos para atender à população. Poucas casas tinham água encanada. A maior parte das famílias era abastecida por chafarizes espalhados nos poucos largos que existiam, até então. O serviço de esgoto era apenas um sonho e considerado irrealizável para muitas pessoas. A iluminação elétrica ainda estava pouco difundida. Foi inaugurada um ano antes. O mesmo acontecia com a Santa Casa, cujo primeiro provedor era conhecido como Comendador Menezes.

O tribunal do júri e a Câmara Municipal funcionavam no pavimento superior da cadeia pública, sendo Juiz de Direito o doutor Amphilóquio Campos do Amaral e o agente do executivo o senhor Francisco Andrade. Os serviços de cartório eram produzidos nas residências dos senhores Alfredo de Almeida, Luiz Salomão e Pedro Dias de Souza.

Uma tarefa que não era tão fácil de se realizar naquele tempo era a compra de selos, o pagamento dos impostos e o recebimento de vencimentos. Para isso, era preciso andar um quilômetro até chegar à coletoria estadual, então dirigida pelo Cel. Antônio Telles, no fim da rua da pedra. A não ser que alguém quisesse se dar ao luxo de tomar uma charrete do Marques, seria preciso percorrer a picada, muitas vezes castigada pela chuva e pela lama.

Para os assuntos relacionados ao ensino normal ou secundário, o recém-chegado João de Camargo era o responsável. E ele sempre falava sobre os seus planos com tanto entusiasmo que os seus ouvintes chegavam a imaginar mármores e cristais no modesto sobradão, meio arruinado, onde foi instalado o Instituto Moderno de Educação e Ensino (atual campus do Inatel).

No teatro, havia artistas amadores e raros grupos que, de vez em quando, apareciam para representar as suas peças no palco do Centro Operário. Também havia na cidade um bar de propriedade de Henrique de Franco, com uma tabuleta com os dizeres: “É aqui que o Mané mora”. O Clube Recreativo ainda não havia sido inaugurado, apesar dos esforços de Del Picchia e Pingulu.

Entre as personalidades que viviam na cidade, destaca-se a figura inconfundível de Godofredo Rangel. Havia sido transferido de Machado, onde atuava como Juiz Municipal, para prestar serviços à Escola Normal, como professor de Português.

Leopoldo de Luna, então Promotor de Justiça e um dos fundadores do Instituto Moderno, convidou Francisco Falcão, recém-chegado do nordeste e que prestava serviços na polícia e como professor em Dores do Indaiá, para fundarem, nos fins de outono de 1913, um jornal chamado “Correio do Sul”. A aquisição de uma oficina não foi algo tão difícil. Sua vinda foi facilitada pelo Agente do Executivo. O primeiro número do jornal semanal ganhou as ruas em maio. Tinha uma boa impressão, o que mereceu elogios do Cel. Joaquim Inácio, a quem as pessoas da época tinham grande admiração pelos seus “modos de fidalgo antigo”.

Alguns meses depois do início das publicações, foram veiculados vários textos com as necessidades locais. Em um deles, questionaram se os carros de bois deveriam entrar na cidade cantando em silêncio.

Outros tempos…

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