Comida saborosa

12688213_10153896249245682_6890928657129114068_nEstávamos, eu e minha esposa, no Supermercado, fazendo a compra básica para a semana. Vinho vigoroso, com leve toque de carvalho, aromas e taninos persistentes e queijo de massa firme e prensada, textura lisa, sabor tendendo a avelã, sem acidez e com suave aroma lático. Roda carrinho pra cá, roda carrinho pra lá, nós o encontramos no final de uma gôndola. Cumprimentamos alegres não só por ser ele um grande amigo, mas também por ser meu fornecedor de histórias e causos. Fui logo pedindo uma história que fosse verdadeira, não que ele diga mentiras, mas em via das dúvidas queria uma que pudesse ser comprovada. O caso aconteceu há muito tempo, na época em que existia a TV TUPI. Havia um programa muito bom chamado Poltrona 4.

O nascimento da TV Tupi foi interessante. Depois de poucos meses de treinamento, alguns radialistas escolhidos por Assis Chateaubriand, o Chatô, lançaram-se à aventura de fazer TV. Os estúdios eram pequenos, o equipamento precário, mas o nascimento da TV Tupi foi solene. Chateaubriand presidiu à cerimônia, que contou com a participação de um cantor mexicano, Frei José Mojica, que entoou “A canção da TV”, hino composto pelo poeta Guilherme de Almeida. Lolita Rodrigues foi uma atriz convidada especialmente para a ocasião. O programa teve a participação do balé de Lia Marques e declamação da poetisa Rosalina Coelho, nomeada madrinha do “moderno equipamento”. A jovem atriz Yara Lins foi convocada especialmente para dizer o prefixo da emissora — PRF-3 — e o de uma série de rádios que transmitiam, em cadeia, o acontecimento. A seguir entrou a programação na tela dos cinco aparelhos instalados no saguão do prédio dos Diários Associados.

Esse meu amigo nos contou que estava na casa dos pais de um seu amigo e, enquanto os donos da casa estavam acomodados no sofá assistindo ao programa da TV Tupi, ele e um filho do casal subiram a escada para tocar um violão gostoso no quarto do rapaz. A certa altura o rapaz disse que estava com fome e pediu que ele fizesse um mexido com a comida que tinha sobrado. A cozinha estava com a lâmpada queimada, estava no escuro, mas como ele era frequentador assíduo da casa, não ficou intimidado. Da sala, dona Aparecida gritou que eles também queriam do mexido e o orientou sobre os lugares em que estavam os alimentos. Foi fácil pegar na geladeira a sobra da comida e colocar numa panela que foi ao fogo. Ainda no escuro, mas com a luz da geladeira ele picou alguns tomates. Abriu a porta do compartimento abaixo da pia para pegar um bom azeite e dona Aparecida gritou que o azeite estava na prateleira em cima do fogão. Apalpou no escuro, achou uma lata de azeite e despejou generosa quantidade sobre o alimento. Notou que o azeite tinha um cheiro estranho, mas não se importou. A dona da casa indicou que havia pedaços de carne de porco na geladeira e com essa carne o cheiro esquisito desapareceu. Cobriu a mistura com fatias de queijo mussarela e serviu o pessoal. Não sobrou nada para ele. O cozinheiro ficou chupando o dedo. No dia seguinte, a empregada perguntou o que tinha acontecido. Desaparecera a lata de querosene que ela guardava no armário. Foi assim que o Clélio me contou. Se é verdade não sei, mas, por via das dúvidas, escrevi.

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