Como teve início a sua paixão pelo automobilismo?
Quando era jovem, eu morava em Ribeirão Preto. Lá havia uma grande quantidade de pilotos de corrida, nós frequentávamos os mesmos ambientes e acabei me tornando amigo deles. Tinha o Paulo Gomes, Fábio Souto Maior, João Batista Aguiar (Campeão Brasileiro de Marcas e Pilotos), Antônio de Castro Prado (Campeão Brasileiro de Fórmula Super V) e outros. Eu sempre encontrava com essa turma e fiquei curioso para saber se daria conta de andar com eles em um autódromo.
E quando você competiu pela primeira vez?
Em 1989, morava em São Paulo e resolvi pilotar em uma categoria chamada Speed 1600, com fuscas preparados para corrida. Foi o primeiro ano em que mudaram o circuito de Interlagos e ele passou a ter o “S” do Senna. Foi ali que começou essa brincadeira de pilotar. Digo brincadeira porque eu não sou piloto. Brinco que sou um “gentleman driver”. Trabalho a semana inteira para, no fim de semana, ir para o autódromo. Participei dois anos da Speed 1600 e passei a participar do Marcas e Pilotos que, na época, chamava-se Turimo N.
Que carros participavam desta categoria?
Andavam Scort, Voyage, Gol… eu optei pelo Voyage. Pilotei com esse carro por dois ou três anos, até montar um Gol para participar da Categoria Força Livre, bem mais veloz. Permaneci 10 anos nesta categoria.
Qual foi o passo seguinte?Eu comprei uma Porsche Turbo e comecei a participar dos eventos da Porsche Club do Brasil. Na primeira vez em que participei de um evento deles, em Interlagos, tinha 124 veículos. O primeiro colocado foi um amigo meu que já corria de GT3 em Interlagos e venceu com uma Porsche GT2. Fui o segundo mais rápido com uma biturbo. Corri também com este carro em uma pista da Embraer, em Gavião Peixoto. Era uma prova que media quem passava na maior velocidade. Eu passei no radar a 327Km/h e fui o segundo mais rápido na minha categoria.
Como é a preparação de um fusca, por exemplo, para uma corrida?
É um carro totalmente depenado. Tiramos até o freio de mão para reduzir o peso. Quanto menos peso o carro tiver, mais acelera, mais freia e faz melhor as curvas. Andamos sempre no limite mínimo do regulamento. Era um fusca que, no final da reta, alcançava uma velocidade em torno de 180Km/h, mas o importante mesmo era o tempo que ele virava. Com motor 1600 e carburador original, virava 2’17. Muito bom se levarmos em conta que são carros de rua. Pra você ter uma ideia, o meu Gol 2.0 vira em 1’52, em Interlagos. É mais rápido do que uma Audi RS6. Então, não existe um carro de rua que vire mais rápido do que um Gol desse de corrida, com motor 2.0 aspirado.
Como era a sua equipe para participar dessas corridas?
Nessas corridas, 30% é a habilidade do piloto. O restante são equipamentos e mecânicos para fazerem reparos e acertarem o seu carro. Nessas provas em que eu participava, havia – no mínimo – 6 mecânicos. Quando o tempo virava e precisava trocar os pneus, por exemplo, era um mecânico em cada roda, para não perder tempo.
Você chegou a correr em outros países?
Sim! Fui andar de Porsche em Spa-Francorchamps, na Bélgica, e já andei lá em Nürburgring, conhecido como “Inferno Verde”. São corridas de GT3 promovidas pelo Porsche Club, mas não são campeonatos oficiais.
Quais foram os títulos que você conquistou?
Eu não podia participar, integralmente, de todo o campeonato, mas já fui duas vezes vice-campeão paulista de automobilismo. Para ganhar o campeonato era preciso participar de todas as etapas e eu não conseguia fazer isso.
As pessoas da cidade lembram muito de um fusca prata que você tinha…
Em 1982, estava em um bairro de Ribeirão Preto chamado Campos Elísios e vi um Fusca preto, com vidrinho oval e uma sinaleirinha que levantava na porta. Era um Fusca raríssimo, fabricado em 1954, alemão. Eu apertei a campainha da casa em frente ao local onde o carro estava estacionado, o dono da casa atendeu e perguntei se ele queria vendê-lo. Ele não quis porque tinha o Fusca há muitos anos e disse que o carro era como se fosse da família. Depois de um mês, voltei a Ribeirão, passei de novo na casa do cara e ele já me olhou com cara feia. Mudei de assunto, perguntei onde ele trabalhava e, no mês seguinte, fui ao trabalho dele. Ele já me olhou com cara de ódio e disse que queria o valor de um carro zero. Na época ainda se fabricava Fusca. Eu comprei o carro e tenho ele até hoje.
Por que você quis tanto aquele carro?
Na época, foi até uma brincadeira. O que existia de carro potente no Brasil era Opala 250S, Maverick V8 e Dodge Charger. Eu quis fazer um carro capaz de dar pau nesses grandes, de brincadeira. Eu fui a Interlagos. Na época havia uma divisão chamada Super V, com motor 1600, bravíssimo, e com cerca de 160 cavalos. Eu cheguei nos preparadores, pedi para eles fazerem um motor desse pra mim, mas com dois litros. Ele deram risada e disseram que eu era louco. Eu, então, consegui montar um motor de Super V, mas para andar na rua. Esse carro andava muito mais do que os originais de fábrica. Era uma gozação ver o fusquinha passar em alta velocidade. Ele ficou famoso aqui na região.
O seu Opala também é mexido?
Sim! Eu procurei um preparador e disse a ele que queria colocar um motor de Stock Car no meu Opala. Ele perguntou: “Mas você vai correr em pista?” Eu expliquei que era para andar na rua, ele deu risada, e coloquei um motor de autódromo, que anda na rua até hoje. O Opala andava com uma Tripla Weber 44. Eram 6 borboletas, uma para cada cilindro do motor. Ele não tem marcha lenta e o motor embaralha muito. Andando devagar, a mais ou menos 120Km/h, este carro faz 3Km por litro. Mas, para você ter uma ideia, um Fusca de corrida faz um 1,5Km por litro no autódromo. Também cheguei a montar um Chevette com motor de Opala 4 Cilindros, bravíssimo.
Você ainda tem alguns carros?
Ainda tenho dois golzinhos. Em um deles o meu filho corria no Marcas e Pilotos. É só dar uma revisadinha e pode jogar no autódromo.
O seu filho também é piloto, não é?!
Ele começou a correr de Kart com 14 anos e foi campeão em São Paulo. Em 2012, ele foi competir no Campeonato Paulista de Marcas e Pilotos e se tornou Campeão Paulista.
Como você define o automobilismo?
É uma forma de transformar dinheiro em barulho, fumaça e alguma fotos.