Caderno de Recordações

(Por Rita Seda)

Usava-se, no meu tempo de colegial, fazer um álbum de recordações. Era um caderno onde as pessoas mais queridas e chegadas, deixavam uma mensagem, geralmente uma poesia. As mais caprichosas faziam de um material diferenciado, escreviam seu nome e RECORDAÇÕES, com certa dose de arte, nas primeiras folhas. Nesse tempo, amava-se a poesia e estava em alta o soneto. Havia reuniões onde se declamava e copiava-se também. Comprar livros era difícil. Acho que todas as garotas dessa época tinham seu livro de recordações.

As pessoas eram convidadas a escrever no livro da gente. As colegiais, então, ofereciam a “honra” da primeira página à sua diretora. Em seguida, aos professores. Hoje, pensando bem melhor, acho que devia ser bem mais uma incomodação… E a gente achando que era uma homenagem! Vá lá! Moda é moda e a gente ia na onda! Se não gostaram, eles que me desculpem, foi a nossa felicidade. A gente, quando jovem, tem um misto de ingenuidade e ousadia também. Sucedem-se as gerações e quando aparece um costume diferente a juventude vai nele com tudo. Eu o reconheço. Mas que foi uma experiência que amei e que agora está trazendo momentos alegres, está!

Muitas vezes, quando pego o álbum para me distrair e me lembrar daquele tempo, em vez de alegria sinto uma certa vergonha. As amigas e colegas gostavam. Muitas delas também tinham o seu. Mas os velhos professores… Professor Castilho, Samuel Bruce, Irene Faria, Irene Castelo, Antônio Silva (dele a vergonha é maior, ele era sério demais, jamais sorria… e diga-se de passagem que era meu ídolo, por ser um exímio artista retratista em crayon.

Com toda sua seriedade, a poesia que escreveu é uma das minhas favoritas). Fez umas fotos do meu pai, mudando o cachecol em colarinho e gravata: ficou perfeito. Temos dele também uma outra obra, a foto de Ozanam, fundador da Sociedade São Vicente de Paulo. Está na Casa de São Vicente de Paulo. Eu a amo a ponto de ter mandado retocar duas vezes, por ter sido atacada por cupins e colocar em sanduíche (dois vidros) para que não estragasse outra vez… Agora, só se quebrar, mas se isso acontecer trinca todo o meu coração. Ao artista que o recuperou pedi para conservar, em evidência, a assinatura do autor. Tenho verdadeira admiração por ele. E assim a gente vai vencendo este tempo complicado e sem sentido. Sim, eu ainda não achei um sentido para este tempo.

Tem alguém me lendo, que também tinha esse hobby?

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