A história de Petite e Betão

(Por Carlos Romero Carneiro) 

Petite

Na década de 70, morava em Santa Rita do Sapucaí um jovem que, por sua baixa estatura, era conhecido pelos amigos e familiares de Petite (petit em francês é pequeno). O garoto, filho de um conhecido carteiro chamado Vitor Grilo, morava na rua Francisco Palma e era amigo da cidade inteira. As pessoas que o conheceram, até hoje, recordam que ele estava sempre viajando às cidades vizinhas para aproveitar alguma festa.

A brincadeira

No início de março de 1967, Petite estava tomando uma cerveja na casa de seus amigos, Carlos Alberto Campos do Amaral e Júlio Gabriel e percebeu que nos fundos da casa estava guardado um luxuoso caixão. Quando a turma de amigos viu aquela grande urna, trataram de colocar Petite dentro. O garoto, ao se deitar, cruzou as mãos fingindo estar morto, fechou os olhos e falou: “Que maravilha de caixão! Quando eu morrer quero ser enterrado nele!” Na verdade, aquela urna estava guardada nos fundos da residência porque no dia 27 de fevereiro de 1967, duas semanas antes daquele encontro de amigos, o Doutor Oswaldo, pai de seus amigos, havia sido trazido de São Paulo, após ter travado uma dura luta contra uma enfisema pulmonar que o acometera. Como o desejo do estimado médico era ser sepultado em um caixão simples, do mais barato que houvesse, a urna cara o qual havia sido transportado da capital paulista foi substituída por seu filho Walter Luiz e acabou encostada nas dependências da tradicional residência.

A festa

Uma semana depois daquele encontro de amigos, Petite e seu amigo Betão ficaram sabendo que aconteceria uma comemoração na cidade vizinha de Brazópolis e decidiram viajar até lá para acompanharem as festividades. Na direção, Betão, com apenas 17 anos de idade. No banco de trás, Petite. Ao lado dos dois amigos, os companheiros Marcos Peão e Lelé. Como naquela noite estava chovendo muito, os amigos colocaram a cobertura de lona no Jipe e partiram em busca de aventuras.

Pouco antes de chegar no destino final, o grupo se deparou com quatro jovens pedindo carona à beira da estrada e decidiram parar. Apesar do carro já estar praticamente cheio, eles ficaram com dó ao ver aqueles rapazes tomando chuva na rodovia.

O Destino trágico

Pouco depois de reiniciarem a viagem, um evento trágico colocaria fim àquela noite que estava apenas começando. Quase na entrada de Brazópolis, o jipe girou na pista e encontrou uma carreta que vinha no sentido contrário. Como o impacto ocorreu do lado esquerdo do veículo, os quatro rapazes que estavam daquele lado morreram instantaneamente. Ao todo, foram 4 vítimas: dois santa-ritenses, e dois dos jovens que pediram carona.

Quando a notícia chegou à Santa Rita do Sapucaí, dezenas de amigos e familiares do rapazes se deslocaram ao local da tragédia, procurando tomar as providências necessárias que os corpos dos dois garotos fosse liberado no necrotério.

Ironia do destino

Ao chegar em Santa Rita do Sapucaí, o corpo de Petite foi depositado na luxuosa urna que havia experimentado há poucos dias. No sepultamento, os mesmos amigos que brincaram com ele na semana anterior carregaram o menino em direção ao cemitério.

A despedida

O cortejo dos dois rapazes aconteceu ao mesmo tempo. Petite à frente e Betão, logo atrás. Uma multidão acompanhou o cortejo sem entender muito bem como duas pessoas tão novas poderiam ir embora de uma maneira violenta. Chegava ao fim a trajetória de Petite e Betão, uma dupla que a cidade disse adeus, mas que até hoje não conseguiu esquecer.

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