A década de 1990 na ETE FMC: um tempo de cultura e reinvenção

Nos anos 1990, a ETE viveu um período de mudanças e amadurecimento sob a liderança serena do padre José de Souza Mendes. Leia e relembre como essa década marcou a história da escola e formou gerações com disciplina, fé e espírito de equipe.

O legado silencioso e transformador de padre Mendes

A década de 1990 na Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa foi marcada por uma liderança serena e por profundas transformações internas. À frente da instituição desde 1985, o padre José de Souza Mendes conduziu a ETE por 15 anos, unindo disciplina jesuíta e espírito de equipe.
Mesmo após deixar Santa Rita do Sapucaí, em 1989, para assumir novos encargos no Rio de Janeiro e em São Paulo, o padre Mendes manteve presença constante, realizando visitas mensais e acompanhando de perto os rumos da escola. Nesse período, o cotidiano passou a ser administrado pelos diretores-adjuntos Waldemar Puccini (1989–1994) e Luiz Alberto Boeing (1994–1998), que deram continuidade à sua filosofia de trabalho coletivo e dedicação discreta.

Sob sua orientação, a ETE obteve recursos do Ministério da Educação para modernizar os laboratórios com novos osciloscópios, um marco na atualização tecnológica da instituição.

Em 1992, o Festival da Canção da ETE retornava ao auditório Sinhá Moreira para apresentar composições dos alunos e proporcionar uma efervescência necessária ao aprendizado e à criatividade dos alunos. A escola também se tornou sede das olimpíadas dos colégios jesuítas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, consolidando seu prestígio no cenário educacional católico.

As festas juninas, organizadas com entusiasmo pelos alunos, amenizavam o rigor dos estudos e fortaleciam o sentimento de comunidade nos alojamentos, que abrigavam mais de 200 estudantes.

Solidariedade e transformação

Nos anos 1990, a ETE também se destacou por fortalecer o compromisso jesuíta com a formação integral dos seus alunos. Em 1992, sob a orientação do padre Luiz Arnaldo Sefrin, nasceu o SolidariETE, movimento de arrecadação de donativos que logo se tornou tradição.

A primeira edição arrecadou duas toneladas de alimentos, roupas e produtos de higiene, ampliando-se, ano a ano, até ultrapassar a marca de três toneladas, em 1994. O projeto continuou ativo nas décadas seguintes, tornando-se um símbolo da solidariedade e da responsabilidade social cultivadas na escola.
Outras iniciativas, como a Missão Rural, aproximaram estudantes da realidade das famílias do campo e reforçaram os valores cristãos que sustentam a pedagogia inaciana.

A rotina nos anos 90

Quem caminhasse pela ETE FMC nos anos 90 encontraria uma escola efervescente, com um processo seletivo concorrido e que exigia que muitos alunos frequentassem cursinhos para serem admitidos. Havia alunos de todas as partes do país e muitos estudantes da américa hispânica. Bem na entrada da escola, uma placa exibia a nacionalidade dos gringos que vinham de todas as partes do mundo em busca de uma educação de altíssima qualidade. Ainda existia o laboratório onde o Padre espanhol, Jayme Fernandes, elaborava experimentos incríveis de química e de física. Já o sacerdote japonês, Motoyasu Furusawa, produzia experiências curiosas de eletromagnetismo e sempre era visto pela cidade com a sua bicicleta barra-forte. No gramado, ao lado do refeitório, um esporte tão admirado quanto exótico: espirobol. Uma bola amarrada em uma corda que, do alto de uma haste metálica, era girada no sentido horário por um jogador e, no inverso, por seu adversário. O vencedor era quem fizesse enrolar a corda em torno da haste e os alunos se aglomeravam para assistir às pelejas nos intervalos

Nos anos 90, as disputas da PROJETE eram ferozes. Os projetos eram sempre elaborados e montados com as placas e componentes do almoxarife, tendo suas caixas feitas na marcenaria do senhor Teteu, atual Casa de Sinhá. Vinham visitantes de todas as partes da cidade atraídos pelas programações da TV ou da Rádio ETE, transmitidas com equipamentos e conteúdos produzidos pelos próprios alunos. Nos fundos do campus havia quatro alojamentos. O edifício provisório também abrigava os alunos forasteiros e, não raramente, o pessoal ia para as salas de aula com a mesma roupa que havia dormido. Nos frios de maio, não era incomum que os estudantes comprassem um cobertor, fizessem um furo no centro e transitassem pelos corredores com a elegância própria de quem não admite passar perrengue. Os alunos de fora ainda eram maioria e, não raramente, arrumavam entrevero com algum valentão da cidade.

Mudanças estruturais e novos rumos

Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9.394/1996), a ETE precisou reformular seus cursos. O ensino técnico, antes centrado somente na eletrônica, passou a abranger novas áreas: telecomunicações, informática e equipamentos biomédicos.

O modelo de ensino se adaptou ao novo século: os cursos diurnos continuaram a ser integrados ao ensino médio, com três anos de duração, enquanto os noturnos se voltaram a alunos já formados, em ciclos de dois anos.

Espinha dorsal do Vale da Eletrônica

Os anos 1990 foram, para a ETE FMC, um período de transição e amadurecimento. A instituição consolidou seu papel como berço e espinha dorsal do Vale da Eletrônica, inspirando a criação de feiras tecnológicas e empresas inovadoras.

De padre Mendes a padre Raul, passando por Sefrin, Puccini, Boeing e tantos outros, a década foi marcada por líderes que souberam unir espiritualidade, rigor e inovação. Entre dificuldades e conquistas, a escola preservou o propósito original: formar cidadãos éticos, técnicos competentes e empreendedores capazes de transformar realidades. Santa Rita do Sapucaí não seria a mesma sem a ETE. E a ETE dos anos 1990 é o elo essencial dessa trajetória de importantes transformações — a ponte entre o sonho de Sinhá Moreira e o futuro tecnológico do Brasil.

Dever cumprido

Ao concluir a sua gestão em 1999, padre José de Souza Mendes definiu sua conexão com a escola como “um amor à primeira vista”, que o acompanharia por toda a vida. Ele faleceria em 24 de agosto de 2018, aos 93 anos.

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