A curiosa vinda do Circo Oni para Santa Rita do Sapucaí

(Caio Vono)

Corria o ano de 1949. Havia chegado na cidade o Circo Oni, que se instalara no terreno vago que existia em frente à nossa casa, à Av. Dr. Delfim Moreira onde, posteriormente, foram construídos o sobrado pelo Dr. Kallás, a casa de Dª Nabiha e o armazém de seu esposo, Chafic Kallás.

Família Canales

O circo pertencia a Walter Canales, que usava o nome artístico de Walter Stuart, e sua esposa Moira. No elenco, Cachita Oni, irmã de Walter, cuja mãe Sra.Oni, de cabeça branquinha e muito elegante, tomava conta da portaria, recebendo os ingressos. Lembro-me bem de uma atriz chamada Santinha, que era mãe de um jovem malabarista que usava o nome artístico de Bigola. Os circos naquela época dividiam seus espetáculos em duas partes. A primeira era intitulada de Variedades e a segunda de Peça, ou seja, uma peça teatral. Aí, Walter Stuart, a Sra.Oni, Cachita (ela e sua mãe sempre com impecáveis vestidos brancos) e Santinha mostravam o seu talento artístico. Lembro-me de uma peça intitulada “Se o Getúlio Soubesse”, uma comédia ali apresentada, inspirada na família de Getúlio Vargas.

Margeando pelo lado direito o corredor que dá acesso à casa construída por Vicente Siécola e onde, posteriormente, viveram Wady Aziz Antonio, o popular Shibine, e sua esposa Da. Melica, havia a pensão São Sebastião, de um senhor de nome Serafim, que havia se mudado para São Paulo e vendido a João Marcelino, que havia trabalhado por muitos anos no Empório Brusamolin, onde havia se aposentado.
Nessa ocasião, o Circo Oni entrou em crise, por motivos que ignoro, e seu dono deliberou suspender as atividades até que as coisas se normalizassem. Walter Stuart, sua mãe e irmã, a esposa e o filho chamado Adriano Canales – que já estava ensaiando para participar do elenco do circo com o nome artístico de Adriano Stuart – ficaram residindo por algum tempo na Pensão São Sebastião e fizeram amizade com muitos habitantes de Santa Rita do Sapucaí e até recebiam convites para almoçar na casa de famílias daqui. Desmontado o circo, o mesmo ficou guardado num barracão onde, posteriormente, seu proprietário, Shibine, montou a máquina de beneficiar arroz. Esse barracão, hoje demolido, ficava atrás de onde é hoje a residência do Dr. Jorge Toledo. No local onde estivera o circo, havia restado somente um monte de areia, onde algumas crianças costumavam brincar, inclusive o Adriano Stuart e eu. Lembro-me bem dele, com seu rosto pontilhado com algumas sardas.

Cachita

O circo fora definitivamente extinto e Walter voltou com sua família para São Paulo. Com a inauguração da TV Tupi, em 1951, tornou-se consagrado humorista de seu elenco e seu filho, Adriano, também seguiu carreira artística, tonando-se consagrado cineasta e ator de cinema.

Na noite deste 8 de fevereiro de 2022, antes de me deitar, “garimpei” o menu da TV em busca de algo interessante para assistir quando, na Rede Brasil, vi que iria começar a exibição de “Meu Japão Brasileiro”, filme de Amácio Mazzaropi rodado em 1964 e resolvi assisti-lo. Eis que no letreiro inicial do filme identifiquei o nome de Adriano Stuart no elenco, aquele garoto que costumava brincar comigo, fazendo o papel de Roberto, filho de um delegado corrupto que comprava arroz de produtores japoneses pelo preço que bem entendia pagar, por ser o único comprador da região. Com certa emoção, reavivaram em mim as lembranças de um passado distante.

Fica aqui o meu tributo a Walter Stuart – Birigui-SP (1922) / São Paulo (1999) e Adriano Stuart – Quatá -SP (1944) / São Paulo (2012), os garotos que brincavam comigo quando crianças fabricavam seus próprios brinquedos e sonhavam com um futuro brilhante.

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