Da travessia do Atlântico à formação de uma linhagem: a saga dos Capistrano de Alckmin

A trajetória da família Capistrano de Alckmin é também a história de Santa Rita do Sapucaí e do Sul de Minas. De um imigrante português no final do século XVIII aos líderes políticos e empreendedores que ajudaram a moldar nossa cidade, essa narrativa atravessa séculos de transformações — do ciclo do café à modernização do campo, da República ao Vale da Eletrônica. Descubra como essa linhagem de trabalho, fé e visão de futuro ajudou a construir o que somos hoje.

João rodrigues Chaves de Macedo, patriarca dos Capistrano de Alckmin

(Carlos Romero Carneiro)

A história de Santa Rita do Sapucaí e do Sul de Minas está entrelaçada à trajetória de famílias que ajudaram a moldar o espírito empreendedor da região. Entre elas, destaca-se a família Capistrano de Alckmin, cuja origem remonta a um imigrante português que atravessou o Atlântico no final do século XVIII em busca de um novo destino. A saga desta família também conta um trecho da história do Brasil: do ciclo do café à modernização agrícola, do poder dos coronéis à consolidação da República. Uma narrativa de persistência, adaptação e visão de futuro que continua a ecoar nos nomes de ruas, escolas e instituições ligadas à memória e ao desenvolvimento de Santa Rita do Sapucaí.

A vinda para o Brasil
Nascido por volta de 1786, na freguesia de Barcelinhos, distrito de Braga, em Portugal, João Rodrigues Chaves de Macedo pertence a uma geração de imigrantes que atravessaram o Atlântico em busca de oportunidades no Brasil colonial.

Por volta de 1809, já estabelecido em São João del Rei, uniu-se em matrimônio a Rita Francisca de Alckmin, filha do alferes Custódio Ferreira Pedrozo e de Maria Emiliana de Alckmin. Isso demonstra que o nome adotado pela família é de origem materna. A cerimônia foi celebrada em 13 de agosto daquele ano na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, sob as bênçãos do reverendo Miguel de Noronha e na presença de figuras de destaque, como o capitão Francisco Antônio da Cunha e o coronel Francisco Joaquim de Araújo.

Matriz de Nossa Senhora do Pilar (ouro preto)

O primeiro Capistrano
Do casamento nasceram doze filhos, dentre eles João Capistrano de Macedo Alckmin. Nascido no dia 23 de outubro de 1811, dia de São João de Capistrano, sacerdote franciscano italiano (nascido em Capestrano, região dos Abruzzos) a homenagem deu origem ao sobrenome que a extensa família santa-ritense carrega até os dias de hoje.

O juiz João Capistrano Alckmin era bisavô do vice-presidente Geraldo Alckmin e pai de Gabriel Capistrano.

Sabe-se que João Capistrano de Macedo Alckmin tornou-se deputado em Ouro Preto e teve 13 filhos. Um deles, o juiz do distrito de Cristina, João Capistrano Ribeiro Alckmin, era pai do coronel Gabriel Capistrano, liderança política de Santa Rita do Sapucaí. Outro filho do magistrado, André Rodrigues de Alckmin, era avô de Geraldo Alckmin, o que demonstra o parentesco do vice-presidente da república com a família Capistrano de Alckmin desta cidade.

Liderança política local
Nascido em Baependi no ano de 1870, Gabriel Capistrano Ribeiro de Alckmin foi eleito Agente Executivo em Santa Rita do Sapucaí no ano de 1909 pelo Partido Repúblicano Mineiro (PRM). Seu filho, Horácio Capistrano, viria a se tornar, em 1947, o primeiro prefeito eleito de nossa cidade, pelo Partido Social Democrático (PSD ou Partidão), controlado por sua família.

Gabriel Capistrano é tio-avô do vice-presidente Geraldo Alckmin.

Gabriel presenciou o auge e o colapso da economia cafeeira mineira, em 1929. Atuando entre comerciantes e banqueiros, ele acompanhou de perto o fim da era dos coroneis, símbolo de uma elite que prosperou com o café e comandou a política nacional até o fim da chamada república velha.
Além de liderança política, Gabriel Capistrano destacou-se como administrador de fazendas e articulador de negócios. Foi responsável por empreendimentos de grande porte, como a aquisição e modernização da Fazenda Delta, propriedade de destaque pela produção de café e pela criação de gado suíço.
A Fazenda Delta, com seus 450 alqueires de terras férteis e dezenas de milhares de pés de café, simbolizava o modelo de propriedade científica que começava a surgir no Sul de Minas. O olhar técnico e os detalhes de manejo descritos por Gabriel em seus registros pessoais refletem um espírito observador e progressista, alinhado às transformações agrícolas do período republicano.

Mais do que um fazendeiro tradicional, ele representava o tipo de administrador que substituía o poder pessoal dos antigos coronéis por métodos de gestão, contabilidade e planejamento — indícios claros da modernização que o país começava a experimentar.

Linhagem de empreendedores
Dessa família de empreendedores e lideranças regionais nasceram nomes que, nas décadas seguintes, se destacariam como produtores agrícolas, exportadores de café, industriais, educadores e políticos em diversas esferas. Uma linhagem que ajudou a mover o Sul de Minas do campo à cidade, do arado à fábrica, da administração pública às salas de aula.

Essa trajetória, porém, não nasceu de um dia para o outro. Suas raízes fincam-se ainda no final do século XVIII, quando o espírito de trabalho e visão de futuro trouxe os primeiros antepassados ao Brasil. Desde então, geração após geração, a família atravessou séculos deixando marcas duradouras em Minas Gerais — nas fazendas e escolas, nos negócios e na política, nas ruas e instituições que hoje levam seu nome.
Mais do que um legado de conquistas, a história dos Capistrano de Alckmin é o retrato de uma tradição de coragem, fé e reinvenção, que segue viva no presente como continuidade natural dos feitos e dos sonhos de seus antepassados.

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