Santa Rita do Sapucaí,
março de 1982.
Prezado filho, o tempo corre e logo você estará de volta ao Brasil, se Deus quiser, trazendo nova bagagem de conhecimentos e alguma experiência que lhe valerão para toda a vida. Aproveite! A má noticia é a morte do João (filho do Manoel Vitorino). Infelizmente este desfecho já estava previsto desde longa data devido aos problemas de nascença. Toda a cidade sentiu muito e o enterro foi dos mais concorridos. A missa concelebrada por varios padres marcou a despedida do povo e dos amigos. Em casa, tudo bem. O Jim (americano) prossegue sua trajetoria em Santa Rita. Creio que está gostando pois tem feito amizades e recebido convites de várias pessoas. Domingo próximo teremos uma bacalhoada no Democráticos. Não precisa dizer que o Abrãozinho irá, mas não por causa do Democráticos! A chuva é torrencial e, por pouco, não inunda a cidade. Parece que está parando! Finalmente! 0 Banco do Estado foi assaltado aqui em Santa Rita! O acontecimento desenrolou-se em pleno meio-dia. Quatro homens armados, um deles com metralhadora, entraram no Banco. No início, dois deles ficaram aguardando nas vizinhanças sem levantar suspeitas. Outros dois dirigiram-se para o Grupo Delfim Moreira onde surpreenderam o Tomaz (da cooperativa) que aguardava o filho obrigando-o a servir de motorista para o assalto sob o pretexto de que nada lhe aconteceria e de que seu carro seria devolvido intacto. Quando chegaram ao Banco os dois comparsas já estavam lá dentro. Facilmente, dominaram os 2 guardas e ordenaram a todos os funcionários e clientes que se deitassem no chão. Foi quando o Celso (Dentista) perguntou se era para deitar de costas ou de bruços. Levou uma coronhada na cabeça e ficou quietinho (não era para menos). O gerente foi colocado na parede de vidro, em pé, com as mãos apoiadas no vidro. Neste instante passa o Paulo (gerente da Caixa) Capistrano e, vendo o gerente do banco naquela posição e muito pálido, supôs que estivesse passando mal e (aí que foi o seu erro) entrou para ver o que houve . Aproximou, bateu nas costas do colega e perguntou : Você está se sentindo bem? – Ao que o colega respondeu entre os dentes: “É um assalto!” Neste instante, o Paulo compreendeu a situação, o que coincidiu com o exato momento em que os ladrões abriam o cofre! Apavorado, foi saindo de mansinho. Quando ganhou a porta da rua, transformou-se no maior corredor de todos os tempos. Ao sair, como um foguete, esbarrou no ladrão que portava uma metralhadora mas que nem teve tempo de disparar, dada a velocidade do Paulo que, provavelmente, será o representante do Brasil nas próximas olimpíadas. Assim teminou o assalto: os ladrões fugiram com pouco dinheiro e o carro do Tomaz foi abandonado na rodovia… Entre mortos e feridos todos se salvaram. No final… Bem, no final, a policia CHEGOU…
Cartas ao exílio: mensagens de Elias Kallás ao filho David
Mensagens de Elias Kallás ao filho David