Por Carlos Romero Carneiro
Enquanto buscava atrações interessantes no sul de Minas, deparei-me com uma história que mistura a grandiosidade do último baile da Ilha Fiscal e a tragédia do Titanic. O episódio ocorreu em Lambari, cidade vizinha a Santa Rita do Sapucaí, e ficou marcado por sua ostentação e, ao mesmo tempo, pela brevidade de sua existência.
Inspirado pelas extravagâncias do Rio de Janeiro imperial, o primeiro prefeito de Lambari, Américo Werneck, criou o que seria o maior cassino de Minas Gerais. O prédio, erguido às margens do Lago Guanabara, mesclava luxo europeu e asiático: pisos e forros da Ásia, azulejos e peças sanitárias de Portugal e Inglaterra, telhas francesas e até gôndolas importadas de Veneza.

A inauguração, em 24 de abril de 1911, reuniu centenas de personalidades, incluindo o presidente Marechal Hermes da Fonseca e o governador Wenceslau Brás, futuro sucessor de Werneck. Os convidados puderam admirar os 2.800 m² da construção, projetada pela firma Poley & Ferreira, decorada com estatuetas de gueixas, dragões e garças, candelabros dourados e lustres de cristal. Obras que remetiam à natureza brasileira completavam a atmosfera requintada, enquanto a orquestra iniciava o espetáculo no salão de música.
Mas, assim como o Titanic, que afundou em sua viagem inaugural, o Cassino teve destino semelhante. Uma discussão entre Werneck e o governador Wenceslau Brás marcou o fim da festa. Ao amanhecer, o Cassino foi fechado, jamais voltando a receber hóspedes. Nas décadas seguintes, grande parte de seu acervo foi saqueada, incêndios destruíram livros e o local permaneceu congelado no tempo, como náufragos à espera de salvamento.

Hoje, quem visita Lambari percebe a melancolia do lugar. Os moradores lembram da época em que a Princesa Isabel buscava a cura para sua infertilidade nas águas da região, quando a cidade ostentava a água mais pura do país e o sonho do grandioso Cassino se dissolvia como a brisa entre suas montanhas.
Enquanto os visitantes aguardam um bom uso para este local grandioso, a memória do Cassino do Lago Guanabara permanece viva, uma mistura de luxo, ambição e tragédia, ecoando as histórias da Ilha Fiscal e do Titanic em pleno sul de Minas.
