A festa de Santa Rita de 1926

(Por Mineiro)

A festa de Santa Rita de 1926 foi a primeira que compartilhei. Os festeiros, Gabriel Capistrano, Benedito Rennó e senhoras, proporcionaram uma das melhores festas realizadas, até então.

Guardo muitas recordações que o tempo não consegue apagar. Vivia a mocidade, com os meus sonhos vivos, o que me traz saudade dos que partiram. Lembro também dos momentos felizes, dos amigos de minha mocidade, hoje velhinhos como eu. Quanta coisa ficou para trás… quantas decepções, injustiças, ainda vivas em meu coração já combalido. É uma miscelânia de recordações, mas a vida continua.
Lembro que, na penúltima noite das novenas e dos leilões daquela festa, combinamos uma ceia no Bar do Calixto, mais amigo do que comerciante, instalado no local onde construíram o Clube Santarritense. Éramos oito amigos: Nestor Caputo, Souza Lemos, José Capistrano, Vicente de Paula Machado, Carlos Pinho Júnior, Agenor Siécola, Olindo Ferreira e eu.

Nestor foi escalado para arrematar uma leitoa recheada, cuja missão cumpriu com um lance um tanto quanto ambicioso, que causou admiração aos presentes. O próprio leiloeiro, o saudoso Major Tonico Ribeiro, dedicado colaborador nas Festas de Santa Rita, não teve dúvidas de bater o martelo, antes que pudesse haver arrependimento.

— Quanto me dão por esta leitoa recheada?

— Duzentos mil Réis!

— É sua! – sem esperar outro lance.

Tivemos uma noite alegre em 20 de maio de 1926. Terminada a ceia, depois do rateio costumeiro, da gorjeta generosa ao Gibi, nosso velho amigo desde o Bar do Sebastião Pinto, fomos acordar o Alípio, com a sua clarineta, lá na Rua da Pedra, para uma serenata improvisada. Não tínhamos cantor, pois não consentimos que o Nestor Caputo, que às vezes se enfeitava de barítono, abrisse o bico naquela noite.
Algumas voltas em duas ou três ruas e a nossa noite alegre terminava na porteira da chácara onde residia o Lola Siécola, o mais moço de todos nós. Já era costume nosso levá-lo em sua casa e ouvir a sua cantilena amorosa que só terminava com a batida surda da velha porteira.

Dos meus amigos de moço, foi o Lola um dos que mais trabalho me deram, razão do seu reconhecimento, da sua leal amizade, sempre demonstrada no decorrer destes 36 anos.

(Texto publicado no jornal “Correio do Sul” de 24 de junho de 1962, por um cronista que assinava com o pseudônimo de Mineiro)

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