Senhor Virgulino e a era dos antigos armazéns

Primeira venda de Virgulino, na Rua do Queima.

A venda do Senhor Virgulino

Virgulino José de Souza nasceu em Brazópolis, em 1920, e iniciou carreira como comerciante na vizinha Conceição dos Ouros. Sua chegada a Santa Rita do Sapucaí só aconteceu em 1945, quando alugou um ponto comercial do senhor José Inácio, na Rua do Queima, e inaugurou a “Venda do Senhor Virgulino”, como ficou conhecida. “Eu vim com a cara e a coragem” – dizia o vendedor à esposa Maria Odília e aos quatro filhos.

Comércio à moda antiga

Porta de entrada para os moradores da zona rural, o estabelecimento situava-se em ponto estratégico, em uma época em que ainda não havia calçamento e que os comerciantes chegavam à cidade montados em cargueiros puxados por mulas. Vanil e José Vinícius, ainda muitos jovens, ajudavam o pai a prosperar e atendiam os numerosos fregueses com cortesia e atenção. Como toda venda de interior, os produtos ficavam suspensos no teto. Grandes sacas de arroz, feijão e milho também era dispostas ao alcance dos clientes, para que as vendas fossem feitas à granel. Linguiças, naquela época, eram vendidas em metro. O que também não podia faltar, era o tradicional fumo de rolo, muito famoso na região e que o senhor Virgulino trazia de Poço Fundo.

Memórias da Rua do Queima

Como sua residência era colada ao estabelecimento, Vanil conta que tem uma lembrança muito triste do local, quando escorregou nos degraus da casa – ao brincar com um papa-vento – e fraturou o nariz. Até hoje ele guarda as sequelas do acidente. Outra recordação dos tempos da venda na Rua do Queima é de um freguês chamado Lazinho, que sempre empinava sua mula antes de “estacioná-la”. Em uma dessas demonstrações de destreza, o tropeiro derrubou uma carteira coalhada de dinheiro que, por sorte, foi encontrada por Vanil. Imediatamente o menino a entregou ao seu pai e, quando Lazinho viu que não faltava um tostão, tentou de toda forma recompensá-lo. Virgulino não deixou: para ele, honestidade não era motivo de recompensa, mas uma obrigação. O fato é que Lazinho tinha mesmo muita sorte e isso ficou comprovado quando a filha de um turco chamado Mustafá se apaixonou por ele, dando origem a um duelo violento em que o rapaz foi atingido por não menos que cinco tiros. De forma inacreditável, o Lazinho sobreviveu aos ferimentos e só faleceu, muitos anos depois, por motivos que não tinham nada a ver com aquela querela amorosa.

O novo prédio

Em 1963, Virgulino comprou um prédio localizado no início da Avenida Delfim Moreira e, desde então, passou a atender não somente os habitantes da zona rural como também os moradores da cidade. Vanil lembra que trabalhou com o irmão e o pai até completar 17 anos, ocasião em que entrou para o regimento (ele se aposentou como Primeiro Tenente e retornou a Santa Rita).

Quando a venda do senhor Virgulino migrou para a rua da ponte.

Tempos de taxista

Depois de alguns anos, José Vinícius herdou o Armazém do pai – já conhecido como Casa Virgulino – e tocou o comércio até dezembro de 2002. Ao se aposentar, o senhor Virgulino tornou-se taxista e teve pontos na Avenida Delfim Moreira e, posteriormente, em frente às antigas casas da Praça.

Virgulino, João Botinha e Levi.

A despedida

Em 2005, três anos após José Vinícius encerrar os trabalhos de um dos últimos armazéns da cidade, o senhor Virgulino faleceu deixando muitos amigos e grandes histórias entre os santa-ritenses. Com sua partida, terminava também um ciclo em que os pagamentos anuais, as vendas à granel e o uso das cadernetas ainda imperavam na região. A Casa Virgulino deixou saudade, mas as lembranças parecem não terem se perdido quando a modernidade chegou.
(Carlos Magno Romero Carneiro)

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