O que aconteceu com a festa de Santa Rita?

(Por Maria Helena Brusamolin)

Tradição é uma coisa séria! E memória também!

Infelizmente, e por motivos variados, nossa cidade vem sofrendo modificações estruturais em suas construções, com seus casarões antigos e lindos cedendo lugar a edifícios de apartamentos e lojas, perdendo, assim, um pouco da sua história e da sua memória. Várias outras coisas estão acontecendo e alterando a nossa memória histórica, nossas tradições, etc. Este é um assunto polêmico, mas o coloquei aqui apenas para ilustrar o tema da minha crônica: a Festa de Santa Rita, nossa padroeira.

Ando com uma pulga atrás da orelha desde que essa tradicional festa foi sendo modificada, encurtada e minguada aos poucos. Onde foram parar os anjinhos que coroavam Nossa Senhora durante todo o mês de maio? Por que o coreto da praça não tem mais cartuchos, assados e quitutes sendo leiloados ou vendidos no sistema peg-pag? Onde está o repicar de sinos do Santuário ao meio-dia, durante a novena, enquanto a Banda dos Fuzileiros Navais Americanos tocava Stars and Stripes Forever?

Acesse para ouvir a música que tocava na torre da igreja, no dia da festa da padroeira

E a nossa Banda de Música tocando seus dobrados, o vendedor de algodão doce, o pipoqueiro, a criançada correndo de um lado para outro sob o olhar cuidadoso e carinhoso dos pais? O perfume e o sabor da cidade durante o mês de maio eram representados pela nossa festa e a animação era geral. Onde foi parar tudo isso?

Antiga imagem de coroação, durante a Festa de Santa Rita.

Desde o ano passado – 2023 – não se tem mais aquela sensação de “a festa chegou”. A igreja faz a programação religiosa, bem enxuta, os festeiros fazem a sua parte, muito bem feita, mas também enxuta, e a praça fica parecendo uma Semana Santa, ou melhor dizendo, uma Sexta-feira Santa durante todo o mês de maio. Terminadas as cerimônias no Santuário, por volta de 20 horas ou um pouco mais, fecha-se o templo e a praça fica vazia, silenciosa, triste como os corações daqueles que, como eu, acompanharam a procissão da padroeira no dia 22 de maio. Vontade de chorar de tristeza…

Há dois anos, a Prefeitura Municipal, numa decisão acertada, transferiu para o Parque de Exposições e Eventos Prefeito Dr. Antônio Teixeira dos Santos, o chamado Campão, as apresentações musicais, as inúmeras barracas de alimentação e de outros produtos, tirando do centro da cidade e da Avenida Beira Rio aquela feira de mil e uma utilidades que tantos problemas causava à comunidade como um todo. Mas… no meu entender, o que acontece no Campão é uma Festa da Cidade, cuja emancipação política é comemorada no dia 24 de maio, e não Festa da Padroeira, comemorada dois dias antes. Temos que saber separar uma coisa da outra. Temos que movimentar a nossa praça. Nem todo mundo vai ao Campão, principalmente à noite, seja pela distância, seja pelo estilo dos eventos ou outro motivo qualquer. Muita gente prefere ficar na praça, conversar, encontrar amigos que moram fora e vice-versa. Inclusive os próprios romeiros reclamam desse estado de coisas. Ficam perdidos sem saber onde ir, onde comer e tudo o mais. É uma festa de inclusão ou não? Precisamos pensar nessas pessoas com carinho sim.
E foi com esse coração cheio de tristeza, mas animada pelo desejo de não deixar a tradição acabar que fui conversar, primeiro com o Pároco, depois com o Prefeito Municipal à busca de um entendimento. Confesso que me surpreendi positivamente com as respostas às minhas indagações: primeiro, o Pároco Pe. Omar disse que não tem nada contra eventos na praça durante a festa; ele só pede que a área em frente ao Santuário fique livre para os eventos religiosos, como encontros, procissões, etc. Por sua vez, o Prefeito Wander afirmou não haver qualquer proibição quanto à utilização daquele espaço público durante a festa.

Procissão em 22 de maio de 1960.

Parece que, com a transferência dos eventos musicais e das barracas para o Campão, houve uma leitura equivocada quanto ao centro da cidade, ou seja, quanto ao movimento da festa na praça. Como não há qualquer proibição, por que não fazer tudo aquilo que citei anteriormente? Banda de música, leilão, comidinhas, coroações por anjinhos, encontros, sinos tocando, etc.?

Vamos pensar nisso com carinho? Alô, festeiros da Festa de Santa Rita 2025! Alô, futura administração municipal! A vontade e a colaboração de vocês são fundamentais para que a nossa tradição seja mantida. Não vamos deixar a nossa festa ir acabando aos poucos, melancolicamente…

Como eu disse no início, tradição é uma coisa séria e a memória também!

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA