(Texto produzido por Alfredo Marques de Azevedo em 1926)
A origem
À margem direita do Rio Sapucaí, entre a Foz do Riacho dos Mosquitos e a do Ribeirão do Vintém, morava há 100 anos, em 1825, um lavrador, dono de alguns alqueires de terra. Homem trabalhador e honesto, intelectualmente atrasado mas bastante religioso, começou a sentir nessa região toda coberta de matas e jaboticabais povoada ainda de onças e macacos, a necessidade de um templo, casa de Deus, onde pudessem se reunir os habitantes do povoado. Chamava-se o lavrador Manoel José da Fonseca.
Adoecendo ele, um dia, fez a promessa de doar à Santa Rita de Cássia um trecho de terras, em que se deveria erguer a sua capela.
Assim foi que, em 22 de maio de 1825, sendo já falecido Manoel José da Fonseca, a sua viúva, Dona Genoveva, deu escritura de uns 8 alqueires de terras, mais ou menos, para patrimônio de Santa Rita, cumprindo a última vontade de seu finado marido.
A escritura foi lavrada ad hoc por Bernardo José de Sant’Anna que, posteriormente, foi sacristão e, ao mesmo tempo, escrivão de paz por muitos anos.
Os habitantes do povoado trataram, desde então, de erguer uma capelinha no patrimônio da Santa, o que se fez em um planalto distante 400 metros do Rio Sapucaí.
Pelo ano de 1833, fixou residência nessa localidade, onde adquiriu terras, vindo de Santa’Anna do Sapucaí Grande, o senhor Major José Feliciano J. Pereira de Souza, casado com a senhora Dona Joaquina C. Marques Pereira.
As primeiras famílias de Santa Rita
Entre as principais famílias que aquele casal encontrou por aqui, havia os seguintes: Capitão Braz Fernandes Ribas; Sargento Mor Joaquim Leite Ferreira de Mello; Capitão Joaquim Ribeiro de Carvalho; Tenente Francisco Gonçalves Teixeira; Capitão João Antônio Dias; Tenente Vitor Modesto Ribeiro de Carvalho; Comendador Custódio Ribeiro Pereira; e ainda os troncos das famílias Ribeiro do Valle, Palma, Villela e Vasconcellos.
O povoado que virou peteca
A 3 de abril de 1839, durante a Regência, o povoado foi elevado a Freguezia, pela lei número 138, ficando então pertencendo ao município de Campanha. Pela lei número 288, em 1846, essa Freguezia passou a pertencer ao termo de Pouso Alegre, de que se desmembrou em 4 de maio de 1852, por via da lei número 575, passando para Itajubá. Tornou a pertencer a Pouso Alegre. Voltou para Itajubá em 1870, por força do Artigo 1 da lei número 1618.
Em 1874, a 24 de dezembro, a lei número 2085 mandou desmembrar essa freguezia do termo de Itajubá e anexá-la ao de Pouso Alegre, voltando, porém, para Itajubá em virtude da lei número 2137. Sobre este ponto, o Anuário Histórico-Chorographico de Minas Gerais, de 1909, do Dr. Nelson de Senna, diz: “Depois de criado o município de São Gonçalo do Sapucaí, determinou a lei de 30 de novembro de 1880 que a ele se anexasse a importante freguezia de Santa Rita que “talvez se livre de tão repetidas transferências”. Foi, com justa razão, elevada à categoria de Villa, pela lei número 3658, de 1º de setembro de 1888.”
Esta lei criou, portanto, o município de Santa Rita do Sapucahy e, quase quatro anos mais tarde, a Villa festejaria a sua elevação à categoria de cidade, fato este que aconteceu na era republicana, em 24 de maio de 1892.
Pouco antes, em 15 de novembro de 1889, a administração municipal denominou-se Intendência e teve seu primeiro presidente, o senhor Arthur Barbosa Rodrigues, médico, e seu Secretário, Antonio de Cássia Rodrigues Dias. Presumo que a Intendência Municipal funcionou até março de 1892, pelos fatos seguintes: o livro da Câmara tem, em uma de suas atas do primeiro livro, a referência à Prestação de Contas da Intendência Municipal.
As primeiras leis criadas em Santa Rita
Tal livro também versava sobre a criação de escolas rurais e as principais leis da Câmara que regeu o município de 8 de março de 1892 a 24 de novembro de 1894, sendo elas:
1) A lei que criou a iluminação pública, a Kerozene;
2) A que tratou da água potável;
3) A chamada Lei Alfredo Luz (de 3 de novembro de 1894), do Vereador com este nome, criando o “Imposto do Fogo”, sobre a qual a respectiva comissão deu este parecer:
a. Devem pagar este imposto de 2$000 todo chefe de família ou dono de fogão, ou em que esteja coletado não excedam 20$000.
b. Deixará de pagar esse imposto todo aquele que for reconhecidamente indigente.
4) A lei que, proposta pelo vereador Ananias Marques Pereira, mandou abrir uma das mais importantes ruas desta cidade, que é a que parte da atual Praça da Independência (praça Santa Rita), conduzindo ao Ginásio (atual Inatel), denominada Rua Cel. Palma.
5) Criada uma lei na mesma data, também por proposta de Marques Pereira, ordenava a desapropriação da ponte sobre o Rio Sapucahy e que ligava a cidade ao bairro, hoje denominado Affonso Penna (Estação). Quanto a esta ponte, reza a tradição, fora construída de madeira por um particular, no mesmo lugar em que se vê a atual, metálica.
A ponte primitiva, embora tosca, prestou inestimáveis serviços à população. Contam que o seu proprietário, José Ricardo dos Santos, honestíssimo e bonachão, manteve um grande portão à entrada, fechado a chave e contratou para porteiro um homem chamado Joaquim Villela.
Historiador encontra documento de 1874 e o publica em dezembro de 1926
Existe no caráter do povo mineiro alguma coisa que vale mais do que esse gênio hospitaleiro tão apregoado. É sua boa fé e simplicidade de costumes.
Encarada debaixo deste ponto de vista, a freguezia de Santa Rita pode ser colocada entre as primeiras povoações de Minas.
Quem precisar repousar de uma viagem agitada, conhecer gente dos tempos primitivos, em que a religião e a virtude são os principais deveres, que procure este lugar ameno, esta planície profunda, quase um lago seco à margem do Sapucahy.
Não é, porém, só a religião e a prática da virtude que preocupam o espírito dos habitantes de Santa Rita da Boa Vista, mas eles são laboriosos e muitos, por apurado trabalho, têm acumulado grandes fortunas.
Compõe-se a povoação de 108 casas, algumas das quais muito bem construídas, formando cinco ruas e uma grande praça onde está localizada a velha Igreja Matriz.
Este templo de proporções acanhadas está se arruinando, mas o povo já começou a edificação de um outro mais vasto e com fundamentos mais sólidos. Está também em construção uma cadeia que, ao ser concluída, excederá algumas existentes em importantes cidades. Há na freguezia uma corporação musical, cuja organização compete ao Alferes Custódio Ribeiro Pereira. A escola pública é frequentada por 50 alunos, mas há também professores particulares. A cultura principal da freguezia é o fumo, cuja exportação anual sobe a 30 mil arrobas. Exporta também duas a três arrobas de toucinho, além de mil e tantos cevados, exportados vivos. Os terrenos são férteis e dão, com abundância, todos os mantimentos. Há terra apropriada para o Café, mas esta cultura ainda está muito no começo.