Marília, a baixinha que deixou marcas profundas no coração de Santa Rita

Poetisa, artista, benzedeira e defensora da natureza — Marília Floriano deixou um legado de amor, beleza e cuidado que ainda pulsa em Santa Rita.

Em 17 de dezembro de 1947, nasceu em Jacutinga uma menina que viria a marcar profundamente a história de Santa Rita do Sapucaí: Marília Floriano de Almeida. Ainda bebê, com apenas um ano de idade, mudou-se com a família para a cidade onde cresceria e deixaria um legado de sensibilidade, inteligência e serviço ao próximo.

Desde cedo, Marília se destacava nos estudos. Brilhante e criativa, suas colegas de magistério costumavam dizer que ela estava sempre “um passo além”, tamanha era a velocidade de suas ideias e a profundidade de seus ideais. Ainda criança, já dava indícios do talento que a acompanharia pela vida toda: escrevia versos, criava poesias e encantava quem a ouvia.

Seu amor pela escrita era tão natural quanto sua paixão pela cidade. Um dos poemas mais lembrados foi feito a pedido de José Norberto Dias, da Casa do Beto, sobre o Rio Sapucaí — um símbolo local que Marília tanto amava. Atuante na Associação do Rio Sapucaí, ela lutava pela preservação desse patrimônio natural, não apenas com palavras, mas com ações. Também deixou um belo acróstico para sua irmã Cibele, escrito em 1973, que até hoje emociona a família.

Marília era o que se pode chamar de artista completa. Além de poetisa, pintava com talento, produzia artesanato e fazia parte da antiga ASA – Associação Santarritense de Artesanato. Criativa e empreendedora, era sócia do marido, Benedito Vitor Garcia, o Didi, numa empresa de silk screen, onde cuidava de toda a comunicação visual. Segundo ele, “era ela quem desenhava, criava e dava vida às ideias. Era uma artista nata.

O carnaval era uma de suas grandes paixões. Foi uma das fundadoras da Escola de Samba Unidos do Maristela, onde atuou como tesoureira e viu a escola conquistar o bicampeonato em 2007 e 2008. Foi também ela quem desenhou a marca oficial da escola, que até hoje estampa as camisetas dos integrantes.

Mas Marília não se resumia à arte. Tinha um dom especial e uma ligação profunda com a natureza. Conhecia plantas e ervas medicinais, e era conhecida como benzedeira de crianças. Com simplicidade e sabedoria, atendia a quem a procurava, mas sempre com consciência e responsabilidade. Como lembra Didi, uma vez, ao benzer um bebê desnutrido, ela deixou claro: “Eu benzo, mas depois leve ao hospital. Tem hora que só médico resolve.”

Com o tempo, sua espiritualidade se aprofundou. Depois da enchente de 2000, passou por uma transformação interior e adotou um estilo de vida inspirado em São Francisco de Assis: simples, desapegado e voltado para o bem comum. Era protetora dos animais e não tolerava maus-tratos — “virava um bicho”, como dizia o marido, quando via alguém agredir um cachorro.

Sempre envolvida em causas sociais, foi também tesoureira da Adevale (Associação dos Deficientes do Vale da Eletrônica) e estava sempre pronta a ajudar quem precisasse — com tempo, talento ou afeto.

Na noite de 24 de setembro de 2010, Marília nos deixou, vítima de uma forte pneumonia. Partiu silenciosamente, como quem encerra um ciclo de amor, trabalho e entrega. Para os que conviveram com ela, especialmente para Didi, sua eterna paixão, Marília era mais do que uma artista: era uma força da natureza, uma mulher à frente de seu tempo, e uma alma que fez do mundo ao seu redor um lugar um pouquinho melhor.

A “baixinha”, como era carinhosamente chamada, deixou saudade — mas também deixou raízes profundas no coração de Santa Rita. E sua história continua viva, como o rio que tanto amava: fluindo, inspirando, seguindo.

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