(Carlos Romero Carneiro)
Um pequeno túmulo no corredor central, quadra de número 6, muitas vezes passa despercebido. As inscrições sobre uma placa de mármore desapareceram com o passar dos anos e deixam poucos vestígios sobre quem estaria sepultado ali. Apesar da indicação de que um bebê chamado Laizinha estaria no local, um crucifixo sobre a lápide, com algumas flores plásticas, já desbotadas, demonstram que o jazigo parece ter sido visitado há poucos anos. As inscrições indicam que a menina teria sido sepultada há 99 anos. Ao buscarmos informações com Ivanil Villela Bernardes, tivemos acesso a um trecho de carta que, curiosamente, desvenda um pouco daquela história e traz informações surpreendentes. Não sabemos quem é o destinatário, muito menos o remetente, mas a carta traz algumas pistas sobre a misteriosa menina.
No primeiro trecho da carta, conta-se de uma cápsula do tempo que Sinhá Moreira pretendia produzir para ser enterrada em 1965 e aberta em 2015: “Dona Sinhá queria que as cartas fossem envelopadas e depositadas no jardim. E a cápsula seria aberta 50 anos após. Seria isso em 1965 e, com certeza, aberta em 2015. Como Dona Sinhá faleceu no ano de 1963, não cumpriu esta promessa.”
Neste trecho da carta, o autor afirma que presenciou uma cena muito triste no cemitério da cidade: “No último dia do mês passado, vivenciamos, minha esposa e eu, na urna cinquentenária da menina da Pedra Branca, uma passagem muito triste.”

Aqui, ele relata que tomou conhecimento da história de Laizinha: “Ao sairmos de lá, estivemos na casa da Dona Alzira Portugal, que nos relatou que, no ano de 1922, aquela menina de nome Laís, ou Laizinha, habitava a fazenda Pedra Branca com sua mãe e avó paterna. O pai havia morrido. Por um descuido de sua avó, Dona Dolores, a menina caiu de cabeça e, na época, não teve salvação. A garota, mesmo sob os cuidados da Irmã Rita e do Doutor Oswaldo Campos do Amaral, não se deu e morreu. Indaguei Dona Alzira, era noite e estava frio. Alzira atestou que a menina foi sepultada no alto do cemitério à beira do calipal. Sim, é triste!” O cemitério era rodeado de eucaliptos. As pessoas chamavam-no de “Calipá”. O remetente afirma que a menina foi, primeiramente, sepultada às margens do terreno.
Neste trecho, o autor conta o que ele e sua esposa viram e que mexeu tanto com os dois no cemitério: “Vosso amigo acredita que, quase 30 anos depois, a menina ainda estava seca? Foi um tremendo alarido! Nosso amigo, João Coveiro, transferiu seu pequeno e leve corpo para o cemitério novo.” Naquela época, chamavam a parte de cima de “Cemitério Velho” e a parte de baixo, antes da pequena escada, de “Cemitério Novo”.
Neste trecho, o remetente relata que uma sepultura foi erigida para a menina após este episódio. Como o túmulo foi construído por uma religião de matriz africana, o coveiro Luiz Villela, adepto da “Casa de Oração Estrela de Ogum”, foi chamado de macumbeiro pelo autor: Luiz macumbeiro, ora! Luiz Vilela, em virtude do amigo Dito Pinto, fizeram uma sepultura para a menina, a pedido de Dona Espanha Castilho. O centro o fez.

Documento resguarda o túmulo: Em outra carta, desta vez uma declaração, a “Casa de Oração Estrela de Ogum” declara-se proprietária do túmulo, cuja lápide com descrição “Laizinha” foi sepultada na quadra 6, do cemitério que, mais tarde, passou a ser denominado “Luiz Villela”, criador do referido túmulo. (Nesta mesma carta, registrada em cartório, os declarantes afirmam que é expressamente proibida a demolição do referido túmulo, sendo ele referido como um bem patrimonial do cemitério. “É de caráter de seus coordenadores (dirigentes) ou seus legatários ou outra sede religiosa manter a salvaguarda do referido.
Uma milagreira? Não se sabe por que, de tempos em tempos, o túmulo é recoberto de flores, velas e terços. Talvez façam isso em memória da criança que, em 2022, completou 100 anos de falecimento. Talvez a casa espírita que existiu na primeira metade do século XX tivesse alguma informação que se perdeu. Talvez tenha ganhado forças a história de que a menina cujo corpo permaneceu incorrupto, 30 anos após a exumação, seria uma milagreira. O fato é que o túmulo de Laizinha permanece intacto, como nos tempos em que foi erigido e o mistério sobre o que teria feito Dona Hespanha ter pedido para criar uma sepultura, ainda é um mistério.