O amor é o segredo de tudo

(Patrícia Vigilato)

Ao olhar a imensidão da primeira manhã de inverno de 2021, penso no período desafiador que enfrentamos e na nostalgia coletiva que tem nos afligido. Por resistência, quero escrever sobre amor.
Tenho ouvido músicas que me tocam. Quando Emicida – rapper e compositor brasileiro, canta “vejo a vida passar num instante / Será tempo o bastante que tenho pra viver? / Não sei, não posso saber / Quem segura o dia de amanhã na mão? / Não há quem possa acrescentar um milímetro a cada estação / Então, será tudo em vão? Banal? Sem razão? / Seria, sim, seria se não fosse o amor / O amor cuida com carinho, respira o outro, cria o elo / No vínculo de todas as cores, dizem que o amor é amarElo”, nos dá dimensão do que é essencial neste mundo ávido em que vivemos, ao mesmo tempo que nos ensina sobre a potência do elo e a infinitude do amor.

Histórias de amor me fascinam. Amor de todas as formas. Me encanta observar, conhecer e conviver com pessoas que deixam o amor prevalecer. Durante anos, tive a alegria de partilhar assuntos profissionais e indagações pessoais com um indivíduo que, para mim, era sinônimo de amabilidade.
Sempre solícito, detentor de uma memória admirável, professor dedicado, conhecedor enciclopédico da história da instituição da qual integrou por mais de 50 anos e trato inigualável com as pessoas, Professor Navantino Dionízio Barbosa Filho marcou seu nome no rol dos maiores santa-ritenses de todos os tempos.

Nascido em Miraí, Zona da Mata mineira, Professor Navantino chegou a Santa Rita do Sapucaí, no ano de 1968, para cursar engenharia no então recém fundado Instituto Nacional de Telecomunicações – Inatel, instituição da qual não mais se ausentou. Por diversas vezes me disse que só permaneceu no município para estudar, porque era jovem e estava em uma fase heroica da sua vida, mas que não se arrependia, porque aqui havia conquistado tudo que ele mais amava: sua profissão, grandes amigos e sua família.
Profissional dedicado, professor inspirador. Seu amor pela sala de aula e pelo ofício de lecionar era explícito, mas penso que não era maior que seu amor pela família e pela doce Cecília. Enquanto escrevo, me recordo da primeira vez que vi Professor Navantino e Cecília, sua esposa, dançando em uma festa de confraternização do Inatel. Eu, uma deslumbrada pelo “amarElo”, nunca me esqueci daquela cena. Eles flutuavam pela pista, com os olhos cerrados. A harmonia que guiava aquela dança era a do coração.

Escrevo sobre amor, mas a palavra que eu mais repeti e ouvi durante os últimos meses foi “saudade”. É um monte de saudade acumulada, de gente, de coisas, de sentimentos, de experiências. Um acúmulo de pequenas saudades de uma vida que não existe mais. Uma saudade que não é só minha, que devasta, inclusive, desconhecidos que também sentem as mesmas faltas, que vivem os mesmos lutos. Saudade.

Quando o Navantino fez a passagem, deixou por aqui uma legião de amigos, aprendizes e muita saudade. Ficam a surpresa da partida, as lembranças dos causos, as histórias e os ensinamentos. Sua dimensão é inexplicável mas, para tentar resumir, “o amor é o segredo de tudo”.

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