“Vomboraaaa!!!” – cansei de ouvir o Edu dar este grito no encontro semanal que fazíamos na antiga Chopperia Castelinho. Era o sinal, nada sutil, para que déssemos linha na pipa e o deixássemos descansar um pouco. Por vários anos, aquele foi o nosso ponto de convergência. Amigos com visões de mundo completamente diferentes dividiam conquistas e tropeços, trocavam ideias sobre música, cinema, literatura ou coisas da vida e recarregavam as energias para começar bem a semana.
Foi no Castelinho que conheci Edu e sua esposa Mary e nos tornamos grandes amigos. Duzinho e Gabi já conhecia de longa data. Eu admirava o companheirismo de um casal com tantos anos de união, o cuidado que um tinha com o outro, e não entendia como alguém que, no começo, me pareceu tão carrancudo, acabou revelando uma pessoa doce, dona de coração enorme e de uma alegria genuína, quase inocente. Mary adorava quando a gente batia ponto por lá e dizia que aquelas conversas sem grandes pretensões faziam bem ao marido. Nós acreditávamos e só íamos embora quando ele botava a gente pra correr, o que toda vez acontecia.
Era sempre a mesma coisa. No fim do expediente, umas onze da noite, Edu fechava as portas do Castelinho, colocava a gente para dentro e ficávamos tocando violão até altas horas. Sua preferida era uma canção Lado Z do Raul Seixas: “Na beira do Pantanal”. Uma canção sombria e triste sobre um amor que terminava em tragédia. Paulista também colocava para fora algumas de suas composições que mais tarde seriam o repertório de sua banda punk. Naquele local, eu criava os primeiros traços do que – alguns anos depois – viria a se tornar a minha primeira ficção. Tudo ali, naquela roda de amigos, sempre acompanhada pelo Edu.
Algumas passagens a gente não esquece… Depois do meu casamento, realizado na capela da ETE com meia dúzia de pessoas ao som de um celular, chamei minha esposa para tomar um chopp no Castelinho e fomos surpreendidos quando Mary subiu no palquinho improvisado para o show daquela sexta, fez um breve discurso e nos presenteou com um espumante, dividido com a clientela. Este é por conta do Edu! Até hoje eu não sei quem pagou a nossa conta naquela noite. Algum cliente pegou a comanda sem dizer nada e quitou como presente de casório. Bacana, não?
Sinto saudades dos tempos em que Daniel, Pombo, Paulista, Rodolfinho, Lucas, Renatinho, Webbinho, Luketa, eu e outros comparsas nos reuníamos ao lado deste sujeito bacana que hoje se despede de nossa comunidade. Taí um cara que vai fazer muita falta para aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Um homem simples, trabalhador, voltado à família e que, de uma maneira inesperada, acabou indo embora mais cedo do que o combinado. Vai com Deus, Edu! Deixamos a cerveja para outro dia. “Vomboraaa!” – Dessa vez, vamos ter que ficar… Abraço!
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