Também conhecido como Cotonete, Mário César Moreira foi líder estudantil, promoveu festivais e fundou o Buffonet!
Nos seus tempos de D.A. vocês chegaram a fazer greve de fome?
Aconteceu isso mesmo, mas quase ninguém sabe dessa história. Eu não cheguei a participar da greve de fome, mas teve um pessoal que entrou de cabeça e que não comia nada. A inflação estava aumentando muito, o Ganso (Luiz Gomes, diretor do Inatel) estava pensando em aumentar a mensalidade e nós fizemos uma manifestação para evitar o reajuste. Analisando com o olhar de hoje, percebo que aquele diretor teve um valor inestimável para o Inatel, mas fizemos um barulho muito grande para impedir o aumento. O então vice-presidente, Aureliano Chaves, que tinha uma relação muito próxima com o Inatel, chegou a liberar uma verba enorme para a instituição e nós queríamos que este dinheiro fosse usado para abater o valor da mensalidade. Lembro que as mulheres da sociedade santa-ritense ficaram sensibilizadas quando souberam que o pessoal não estava comendo e quiseram nos ajudar! Elas foram fundamentais para termos as nossas reivindicações ouvidas e atendidas. Como era época de ditadura, final dos anos 70, havia um pessoal infiltrado na reunião, para saber o que iríamos debater.
E como desenrolou esta história?
O professor Luiz Gomes nos chamou, nós negociamos e boa parte do dinheiro que a instituição recebeu foi usada para manter o valor da mensalidade.
Como era o seu relacionamento com o diretor do Inatel?
Ele me considerava tanto que, um dia, eu estava em casa e fui avisado de que ele queria falar comigo. Nós nos reunimos na sala de direção e ele perguntou quanto eu ia precisar para promover o festival. Eu disse quanto iríamos precisar e ele nos cedeu o valor necessário para realizar o evento.
Vocês promoveram os festivais da canção?
Sim! Nós promovemos três edições do Festival da Canção, conhecido como FUC. Eu fazia parte do Diretório Acadêmico do Inatel e, nesse período, fizemos dois festivais no estádio Erasmo Cabral e um no Country Clube. Nesse período, nós trouxemos o grupo Sagrado Coração da Terra, Mercedes Sosa, Grupo Mambembe e vários outros grupos alternativos. Chegamos a trazer até um violinista da orquestra sinfônica de Minas Gerais. Lembro que, quando a Mercedes Sosa fez o ensaio, eu não pude estar presente e um amigo falou: “Você perdeu um momento espetacular…” Estes eventos aconteceram no início dos anos 80. Foi em maio e estava um frio do caramba! Lembro que nós fizemos uma reunião com o então prefeito, Ronaldo Carvalho, e com os vereadores para pedir o campo emprestado. Já estava quase tudo certo, quando um dos vereadores perguntou: “Como vocês vão garantir que não vai ter pouca vergonha?” Eu tive que responder a ele que a gente não podia garantir nada, mas eles autorizaram mesmo assim.
A primeira edição acabou dando prejuízo porque roubaram uns equipamentos que ficaram lá e tivemos que pagar. O segundo ficou no zero a zero e o terceiro deu um pequeno lucro.
Como eram os festivais?
Os festivais eram muito bons! Tudo correu muito bem e as pessoas adoraram. Veio cada grupo bom para se apresentar que você não acredita!
Quando começou a trabalhar com bar?
Quando eu ainda estava no D.A., nós pensamos em montar uma sede e alguém teria que tocar o bar. Como a minha namorada ficou grávida quando eu estava no segundo ano, tinha que encontrar uma fonte de renda e resolvi encarar o desafio. Eu tive a ideia de chamar o Bufa para trabalhar comigo. Eu ainda não o conhecia, mas ele estudava na minha turma e era dono da lanchonete do Inatel. Lembro de nos encontrarmos no morro do sabão e de tê-lo convidado para trabalhar comigo! A gente não teria que pagar aluguel e nem energia, mas teríamos que vender todos os produtos mais baratos do que no restante da cidade. Nós montamos o D.A. em uma das casas da praça, em frente ao cinema.
Havia a casa do senhor Luiz Carlos e o bar era no casarão ao lado. Nós instalamos umas caixas de som pelos cômodos daquela casa enorme e, quando tocávamos “The Wall”, tremia tudo! A estudantada ia em peso e eles não tinham exigência nenhuma. Qualquer coisa estava bom. Como queríamos comprar Coca-Cola, éramos obrigados a vender a pior cerveja do mundo, chamada Inglesinha, mas ninguém reclamava. Cansei de ver o pessoal tomar garrafas do engradado por ter acabado a cerveja gelada.
Quem frequentava o bar do D.A.?
A maioria do público era formada por alunos do Inatel. Dava um pessoal da ETE também. Quando entrava alguma mulher da cidade, a gente apanhava dos nativos! Lembro que havia muitas brigas entre forasteiros e moradores da cidade e eles viviam querendo bater em mim. O Guinho, que depois abriu uma lanchonete na avenida do Inatel, tinha um porrete e deixava de jeito, caso alguém quisesse me pegar.
E até quando vocês permaneceram naquele local?
Quando o Peão entregou o ponto onde teve bar e restaurante, nós resolvemos alugar aquele espaço. Lembro do Ganso ter me chamado para perguntar se queríamos alugar aquele ponto e disse que o Inatel iria pagar o aluguel. Nós levamos o D.A. para aquele local e havia uma boate no andar de cima.
Até quando você tocou o bar do D.A. Inatel?
Quando mudou a diretoria do D.A., entrou a oposição e os caras começaram a dizer que nós estávamos ganhando dinheiro demais. Olha como são as coisas… eu andava a pé e o Bufa tinha uma bicicleta. A gente fazia gelo na geladeira de casa para levar para o bar para fazer as doses para economizar. Um dia, o Bufa ganhou uma moto do irmão dele e ele me vendeu a bicicleta. Fizemos um upgrade! Passou um tempo, meu irmão também me deu uma CG 125 e o pessoal começou a crescer o olho! Foi o gatilho para o pessoal começar a achar que estávamos ganhando muito dinheiro e nos tirarem do D.A., quando a oposição ganhou. Foi a melhor coisa que poderiam ter feito, porque decidimos montar o nosso próprio bar!
Foi aí que surgiu o Buffonet?
Sim! Nós juntamos os nossos apelidos, Bufa e Cotonete, e criamos o nosso bar, o BUFFONET, em um imóvel do João Compra Tudo, na esquina do Correio. Hoje existe uma galeria no local, mas antes havia um espaço, que nós resolvemos alugar.
O bar fez muito sucesso?
Bombou! Fechava a rua. Como estudante não tinha muita exigência, cansei de servir caipirinha com sal. Muitos não pagavam, mas estava tudo certo! Quando eu me formei, em 1983, o Bufa ficou até 1985 e passou o ponto para o Cleiton, que foi para a rua 13 de maio.
E você conseguia conciliar o bar com os estudos?
Eu sempre fui um bom aluno! Passei direto em tudo, do primeiro ao último período. Mesmo casado, com filhos e trabalhando na noite, eu nunca peguei uma dependência. Quando eu me formei, fui escolhido o orador da turma.
Quando você foi embora da cidade, foi trabalhar com quê?
Eu fui trabalhar como engenheiro. Voltei para a cidade, em 2006, quando criei a filial da minha empresa, a Petcom, na cidade. Nós recebemos alguns incentivos do governo e decidimos nos mudar para Minas Gerais e vir para Santa Rita. Eu poderia ter ido para Barbacena, minha terra natal, mas Santa Rita é a minha cidade. Tenho algo muito forte com este lugar. Vim para cá por opção. Eu fiquei muito honrado pelo título de Cidadão Honorário que recebi da cidade e considero a história de Sinhá Moreira fantástica! Sempre falo isso com todo mundo. Num país onde a educação é sempre deixada de lado, vemos uma história de uma pessoa que doou tudo o que tinha, há 65 anos. Isso era para ser contado no Brasil inteiro!
E você continua amigo do Bufa?
Ele é meu eterno amigo, irmão e camarada. Para mim, não há uma pessoa como ele. Nós dividimos uma fase difícil… eu com filho pequeno, ele também, e passamos por uma série de coisas. Na festa de 25 anos de casamento dele e da Gal, cheguei pra ela e brinquei: “Conheço ele há muito mais tempo do que você.” Ele tem uma empresa de representação da Furukawa e continua muito meu amigo. Ainda fazemos negócios juntos e nos damos muito bem.
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