Se o leitor pudesse entrar em uma máquina do tempo e voltar à segunda metade do século XIX, provavelmente não reconheceria o local. Isto, porque, por volta de 1874, a fre-guesia de Santa Rita da Boa Vista dava os primeiros passos e buscava recursos das maneiras mais primitivas possíveis. Na época, ainda não havia os tradicionais cafezais. As principais fontes de renda eram a plantação de fumo e a produção de toucinho. A venda de porcos também movimentava a economia de uma região onde os correios só passavam de três em três dias.
O comandante das redondezas era o comendador Custódio Ribeiro, um dos 11 eleitores da freguesia e que votava no colégio de Pouso Alegre. Cabia a ele as funções de juiz de paz, subdelegado e diretor da primeira banda de música da cidade. Também era proprietário da fazenda do Balaio: único ponto de referência do povoado, no mapa da época.
Em um tempo em que a extração do ouro era comum nas redondezas, cabia ao senhor José Geraldo da Costa a função de compra e venda do minério. Engenhos de cana somavam doze. Cinco, movidos a água. Um deles foi inventado por um padre chamado Joaquim Daniel Leite Ferreira, famoso por produzir engenhocas nunca vistas pelos habitantes do povoado.
Santa Rita da Boa Vista contava com dois sapateiros, em 1874. Era deles a missão de reconstruir velhas botinas e produzir outras novas. O povoado tinha apenas um dentista, Seu Francisco de Oliveira Castelo, cuja função era mais retirar os dentes velhos do que consertar os bons.
Nos dias de quermesse, os fazendeiros deixavam suas propriedades rurais e rumavam à freguesia. As 108 casas eram construídas em terrenos comprados da paróquia e distribuídas nas únicas cinco ruas ou na praça que contornava a velha e castigada Matriz.
Quando começavam os festejos, o senhor Carolino Luiz de Almeida preparava a pequena corporação musical. Pouco antes da missa, Joaquim Ourives, o fogueteiro, iniciava uma salva de tiros que ecoava pelo vale e avisava os santa-riten-ses que o Vigário Antônio Vieira estava prestes a começar a cerimônia. Dentro da igreja, os bancos dianteiros eram destinados aos endinheirados, dentre eles: o Alferes Custódio Ribeiro, o Capitão Joaquim Ribeiro de Carvalho e Roque – o filho de Braz Fernandes Ribas.
Após a missa, tinha início a quermesse, momento em que os fazendeiros se reuniam para colocar a prosa em dia. Quem documentava as festas era o retratista, Antonio Português, que cobrava uma fortuna pelas “vistas”. Quando a noite caía, quem não tinha residência fixa pousava no único hotel da cidade, de propriedade do senhor Antônio Francisco Vilela. Na manhã de segunda-feira, as comitivas tomavam rumo das propriedades rurais e o silêncio voltava ao que viria ser a Santa Rita do Sapucaí que conhecemos
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