Onde você nasceu?
Nasci em Toowoomba, cidade muito parecida com Santa Rita. É um lugar montanhoso, bem frio, localizado em uma região onde predomina a agricultura.
Quando eu terminei a universidade, me mudei para Brisbane (capital), onde morei por dois anos. De lá, viajei para a África, morei dois anos em Londres e conheci o Oriente Médio. Estive na Turquia, Líbano, Síria, Jordânia e Egito. Na volta a Londres, conheci a Viviane, que é santa-ritense, e pude visitar Santa Rita.
Quando veio para cá?
Eu cheguei em 2001 e passei três meses na cidade. Até então, poucos gringos haviam passado por aqui e foi uma experiência incomum para os moradores. Eu me sentei em uma cadeira na sala e os familiares da Viviane fizeram fila para me conhecer. Até gente que estava passando na rua entrou na casa. Quando eu perguntei para a Viviane quem eram aquelas pessoas, disse que não sabia.
O que achou de Santa Rita do Sapucaí?
Eu achei a paisagem de Santa Rita muito linda e as pessoas muito amigáveis. Também vi graça na quantidade de fuscas e notei que o local parecia não ter regras. Eu descobri que as pessoas trabalhavam durante a semana, mas descansavam e se divertiam aos sábados e domingos. Na Austrália, as pessoas não param. Vi mais flexibilidade por aqui e gostei muito disso. No meu país, as pessoas não desligam. Você chega num churrasco e só falam de trabalho. É impensável marcar uma cerveja no meio da semana e as pessoas festejarem como acontece aqui.
Como foi sua mudança para cá?
Eu fiquei com um pouco de medo, mas estava mais empolgado do que a Viviane. A vida fora do Brasil não é perfeita como muitas pessoas pensam. Nós morávamos em uma cidade grande, com dois milhões de habitantes e gastava uma hora e meia para chegar ao trabalho. Nós tínhamos crianças pequenas e queríamos tranquilidade.
Você manteve a sua impressão quando ficou mais tempo aqui?
Santa Rita é um lugar fora da curva. Não conheço outra cidade deste porte onde as pessoas tenham tanto conhecimento e cultura. Na minha opinião, os brasileiros têm um complexo de inferioridade muito grande. Enxergam a própria realidade de uma maneira distorcida. Não existe outro lugar no mundo onde você pague quinze reais para ver uma banda com a qualidade e o talento de uma Patronagens Band. Lá fora, as coisas são mais ordenadas, mas isso não quer dizer que sejam melhores do que aqui.
Na Austrália você atuava com quê?
Eu trabalhei no departamento de assistência social do governo por cinco anos. Depois abri uma empresa de captação de água da chuva para uso na própria residência. Lá, o clima é muito seco e não temos tanta água quanto aqui.
E como surgiu a ideia de integrar uma banda?
Eu estava procurando alguma coisa para fazer e soube de dois alunos da minha escola de inglês (Fluency) que estavam montando uma banda. Eles souberam que eu tocava baixo e me convidaram, mas eu nunca tinha tocado com um grupo antes. Comecei em Santa Rita.
E a ideia de criar um selo de nomes independentes?
O meu irmão trabalha em uma empresa distribuidora digital de música. Eles colocam as canções no Spotify, Itunes e outros serviços. No natal, eu estava na Austrália e disse a ele que tinha algumas músicas que gostaria de divulgar. Quando ele me contou os valores para hospedagem ilimitada das músicas, achei a proposta interessante e resolvi assinar. Com isso, ganhei a oportunidade de ajudar as bandas da região e surgiu o selo “Burn the Lizzard”.
Qual é a intenção deste projeto?
Divulgar os trabalhos e chamar a atenção para selos maiores. Até o momento, seis bandas fazem parte: Mário, Guido Del Duca, Pedro Bala e os Holofotes, Pão e Circo, SuperOver e a nossa banda, King in the Belly.
Também tenho projeto para um site onde os donos de restaurantes podem acessar e contratar as bandas, o que evitaria problemas com o ECAD, que fiscaliza a execução de músicas não autorais.
A cena autoral aqui é forte?
Quando eu cheguei aqui, custei a entender como poderia haver tantos artistas incríveis tocando músicas dos outros. Eu me perguntava por que eles não estavam fazendo o próprio som e descobri que compunham, mas não tinham espaço para divulgar.
Por que os australianos viajam tanto?
Vinte por cento dos australianos têm pais que nasceram fora do país. Com isso, tornaram-se culturais as viagens. O fato de trabalharmos desde cedo também nos torna mais independentes para conhecer outros lugares.
Uma tradição entre os australianos é viajar pelo mundo no ano que antecede a faculdade para terem certeza do que querem fazer da vida. Então, conhecem outras culturas, pessoas e profissões. Voltam com outra cabeça… com outro jeito de pensar.
Outro fator interessante é que lá você só precisa pagar a faculdade, depois que começa a ganhar trinta mil dólares por ano. Isso faz com que não haja tanta pressão para sair da escola e começar imediatamente a estudar. Você pode fazer como quiser.
(Concedida a Carlos Romero)
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