Toda cidade tem seus personagens folclóricos. A cada geração, algum habitante com hábitos excêntricos e jeito engraçado acaba ganhando a simpatia dos companheiros e conquista seu espaço no imaginário popular.
Em toda a de história de Santa Rita, dezenas de personalidades foram eternizadas, mas não conheço, em nenhum outro lugar, o caso de um animal que tenha ganhado o status de gente, como aconteceu por aqui.
No início da década de 80, um filhote de urubu foi encontrado em um alojamento da Escola de Eletrônica e passou a ser cuidado pelos alunos. Sem forças para reencontrar a mãe e, muito menos, de ganhar o mundo em busca de um pedaço de carniça, o bicho se acostumou a receber os cuidados de seus novos tutores e cresceu acreditando ser gente. A simpatia dos estudantes pelo bicho era tanta que não tardou para que eles colocassem nele um nome de gente e começassem a tratá-lo como um colega de escola. Frederico, como ficou conhecido, passou a frequentar, diariamente, os corredores da instituição e a andar por entre os alunos, enquanto as aulas não começavam. Quando a sirene tocava, lá vinha o urubu, correndo em disparada, em direção a alguma sala. Voar não era do seu feitio. Preferia usar as pernas, com andar elegante e cheio de malemolência.
Na adolescência, Frederico passou a acompanhar os estudantes em incursões regulares aos bares e apreciava tomar uma cervejinha gelada, nas rodas de boteco em que as conversas eram jogadas fora. Seus amigos ainda se lembram do gênio inquieto do urubu, sempre caminhando de um lado para o outro, e confidenciam que “falar ele não falava, mas que prestava uma atenção danada”.
Ao tomar conhecimento de que o Mercado Municipal era um local onde se podia encontrar “carcaça de primeira”, o ponto preferido de Frederico passou a ser a Alameda José Cleto Duarte. Quando não tinha muito o que fazer, a ave passava pela banca de revistas do senhor Rosário, conferia as manchetes e procurava algum amigo no calçadão, onde espiava as gatinhas. Com altura privilegiada, Frederico olhava debaixo das saias e fazia “ar de galanteador”, para inveja dos amigos.
Existem muitas teorias sobre o triste fim de Frederico, por volta de 1986. Alguns santa-ritenses dizem que, quando tomou conhecimento de que não era humano, teria pedido carona para um caminhoneiro e acabou atropelado ao chegar a São Paulo. Outros confessam que ele se tornou um dependente da água que passarinho não bebe e não aguentou o baque ao confundir etanol com gasolina. O fato é que esse conterrâneo trouxe grandes alegrias ao nosso povo e bem merece uma congratulação formal de nossa Câmara Municipal pelos inestimáveis serviços prestados no decorrer de sua breve, porém profícua, existência.
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