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Um santa-ritense na Revolução de 1932

Quando integrou o 8º Regimento de Artilharia de Montanha (Pouso Alegre), durante a revolução de 1932, o jovem Antônio Lemos Carneiro ficou conhecido apenas como Soldado Carneiro. Por ter trabalhado na primeira companhia de telefonia de Santa Rita, sua função era fazer com que o batalhão mantivesse a comunicação com os aliados, além de realizar reparos em equipamentos elétricos.

De 9 de julho a 10 de outubro, tiveram início as operações de guerra contra os “Rebeldes Paulistas”. Como o sistema de comunicação era precário, Antônio utilizava as cercas de arame das fazendas como condutores elétricos. O reservista carregava nas costas um rolo de fios e ia desenrolando, à medida em que o pelotão avançava.

A 5ª bateria desembarcou em Itajubá para realizar operações militares e alojou-se no prédio do Grupo Escolar. O objetivo era impedir que os paulistas adentrassem a região através das linhas férreas e das estradas de rodagem. Os dois exércitos chegaram a ficar a menos de 550 metros de distância e, dada a proximidade, trocavam frequentes insultos.

No final de julho, Antônio foi encaminhado com a sua Bateria ao Morro da Vendinha (Bairro São João), em Pouso Alegre, para conter a aproximação dos inimigos. Na viagem, o comandante perguntou se havia um soldado que sabia dirigir e Antônio aceitou a missão de transportar alguns companheiros, sem nunca ter guiado na vida.

Às vinte e duas horas, do dia 20 de julho de 1932, o grupo abriu fogo contra os paulistas que já estavam em Pouso Alegre. Segundo foi relatado em seu diário, “apesar do fogo dirigido pelo adversário, o grupo manteve sua posição”.

Quando as tentativas de invasão a Pouso Alegre foram contidas, o grupou embarcou com destino às zonas de operação do eixo Ouro Fino – Jacutinga. A estratégia de Antônio era permanecer ocupado com as comunicações, para que não precisasse atirar. Como os adversários recuaram, os mineiros adentraram o estado de São Paulo e iniciaram um confronto em Itapira. Quando obtiveram êxito, Antônio comprou uma caixa de limonada purgativa e preparou a bebida para companheiros e adversários, o que ocasionou uma disenteria generalizada no batalhão. O grupo teve que fazer uma pausa estratégica, antes de partir para Mogi. Nem mesmo o comandante escapou da guerra intestinal que fuzilou, de forma fulminante, ambos os lados.

Em Mogi, um novo conflito aconteceu no campo de aviação. Os mineiros renderam os paulistas e iniciaram a marcha em direção à estação. No caminho, um fato gerou risos e constrangimento entre os soldados. Um dos paulistas roubou um relógio em uma casa abandonada e o despertador tocou, às 5 em ponto, dentro de sua mochila.

Por onde passaram, os paulistas eram rendidos e encaminhados ao campo de concentração de Pouso Alegre. Quando precisavam recuar, os inimigos puxavam um cabo de aço que desmontava as metralhadoras. Como as peças eram pesadas, muitas armas ficavam espalhadas no chão.

Os mineiros chegaram em Jaguari e o comandante contratou um fotógrafo para eternizar o sucesso das operações. Antônio, que passava por uma terrível dor de dente, estava com o rosto inchado e furou a fotografia com uma bituca de cigarro, para evitar a gozação dos colegas.

A bateria continuou progredindo. Quando os mineiros chegaram a Campinas, os conflitos foram contidos e o grupo embarcou, às onze e meia da noite, com destino a Pouso Alegre. A chegada ao quartel aconteceu 24 horas depois. Em “casa”, o Tenente Toscano assinalou na caderneta militar de Antônio: “O cabo Antônio Lemos Carneiro, Sinaleiro Telefonista, deu, em toda a campanha, as melhores provas de sua capacidade de trabalho e conhecimento de sua especia-lidade. Serviço duro, que foi desempenhado com todo o entusiasmo e dedicação pelo telefonista que, ora correu linhas para comunicação, ora consertou aparelhos, ora construiu trincheiras, debaixo do fogo inimigo. Citamos o cabo Carneiro pela bravura, calma, perfeito conhecimento de suas especialidades e grande desprendimento e dedicação”.

No dia 28 de fevereiro de 1933, Antônio pediu dispensa do Exército por conclusão do tempo de serviço. O Cabo recebeu diversas homenagens, segundo foi relatado em sua caderneta militar e teve conduta muito elogiada. Um dos motivos da admiração dos superiores aos serviços prestados pelo reservista foi o fato de ter, aos 19 anos, bons conhecimentos de eletricidade, telegrafia e mecânica.

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