Qual é a característica do seu trabalho?
O meu trabalho carrega uma estética do stencil, embora, na maioria das vezes, não utilize esta técnica. Com o passar do tempo, fui desenvolvendo e utilizando outros meios como o “grid orgânico”, projeção de imagens, dentre outros. Isso sem perder a estética do stencil que, normalmente, é construída em camadas monocromáticas, vetorizadas. Não me apego a uma temática específica, mas tenho uma particularidade: retratar o cotidiano urbano. Também abordo histórias de pessoas e personalidades, buscando valorizar a memória dos retratados por meio da arte.
Como surgiu a oportunidade de atuar em Santa Rita do Sapucaí?
Nós recebemos uma proposta de, inicialmente, fazer os muros da pracinha da Câmara. As outras paredes ainda não estavam nos planos. O Gustavo Vedana era o responsável pelo projeto e trouxe a proposta de envolver as crianças da escola e pensarmos sobre o ambiente em que iríamos atuar. Ele pediu que nós pensássemos a pracinha como um local de reflexão. Um lugar onde as pessoas vão para meditar e pensar sobre a vida. Eu nunca tinha pensado dessa forma já que, do lugar de onde eu venho, uma pracinha remete sempre ao vandalismo e à criminalidade. Então achei bem interessante a proposta e percebi que nunca tinha visto o local daquela forma.
Conte-nos sobre a ideia de fazer a arte na Tipografia São Miguel
Quando o Diego Dais foi fazer uma fotografia do local, contou que havia surgido a oportunidade de fazer mais uma parede, que era a lateral da casa da Tipografia. No início, até pensei em não fazer, mas topei e soube que havia um documentário sobre o local. Como procuro sempre contar histórias através da arte, decidi retratar o casal que vive ali e que está prestes a completar 68 anos de casados. Aquilo foi como um presente para eles.
E você teve contato com o casal?
Tive sim! Eles formam uma família com quinze filhos, sendo dois falecidos. Alguns deles ainda vivem por ali e os que se mudaram estão sempre circulando por aquele espaço. Foi uma experiência fantástica de acolhimento e me identifiquei muito com aquela família.
Você com o Diego Dais (artista local) já se conheciam antes deste trabalho?
Sim. Nos tornamos amigos através do graffiti, principalmente por desenvolvermos a técnica de stencil. Nós fazemos parte de uma mesma cultura e participamos de encontros nacionais de graffiti que acontecem, anualmente, por todo o Brasil. No ano passado, desenvolvemos, de forma independente, um painel dentro da programação do HackTown. Neste ano, tivemos a oportunidade de sermos contratados e, assim, retornei novamente à edição 2023.
Como surgiu a sua paixão pelo Graffiti?
Surgiu entre 1997 e 1998 e foi algo imediato, como um amor à primeira vista. Antes de grafitar, eu pichava, embora tenha sido uma fase bem curta em minha vida. Venho de uma família militar e sempre tive a pressão do medo de que eles descobrissem. Também tinha consciência de que estava fazendo algo errado e isso fez com que eu não praticasse tanto. Mas comecei desta forma e o graffiti me inseriu na arte.
E você sempre viu o graffiti como profissão?
De início, eu não via aquilo como profissão. Tanto que fui para uma outra área! Muitas pessoas que começaram comigo conheceram o mundo todo por causa do graffiti, produziram diversos trabalhos e tornaram-se reconhecidas. Para mim, era algo de escola. Uma coisa de adolescente.
Nesse período afastado, fiquei 11 anos sem pintar. A única conexão que eu tinha era com os próprios graffitis, espalhados pela cidade. Eu ficava horas observando e filtrando a arte, embora não fosse comum ter essa oportunidade.
Outro meio foi através da Revista Graffiti, elaborada pelo grafiteiro, Binho Ribeiro, de São Paulo. Aquele foi um dos maiores canais de informação e de acesso que tivemos naquela geração, já que não tínhamos acesso à internet e redes sociais, como acontece hoje em dia.
E como foi seu retorno?
Chegou um momento em que voltei a grafitar, mas ainda tinha que conciliar com o meu trabalho na indústria. No final de 2015 eles me mandaram embora e decidi viver de arte. Estou até hoje nessa batalha. Devo dizer que não é fácil, mas é muito satisfatório para mim. Eu reconheço a importância da arte na vida das pessoas.
Qual foi a reação da família do senhor Ivo, quando viu o projeto ser feito?
Um dos filhos chegou para mim, um dia, e perguntou: “Então quer dizer que eu vou ver os meus pais ali mesmo?” Então foi uma coisa em que, desde o início, eu percebi o impacto que causaria na vida daquelas pessoas, o que me fez muito bem. Tudo isso é um combustível para seguir no caminho das artes, já que possui muitos altos e baixos. Um dos motivos para eu ter seguido para a tatuagem foi abrir um pouco o leque e não depender de apenas uma fonte de renda. Poucos conseguem viver somente do graffiti, então precisamos conciliar.
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