Coluna do Elísio Rosa

Um músico veterinário – Por Elísio (Pamphiro) Rosa

Por anos, em Santa Rita, havia um veterinário muito estimado por todos. No porão de um casarão secular que havia na praça, ele se estabeleceu com uma clínica veterinária que chamava de farmácia. Ficava em frente ao cinema. Ele era um médico veterinário polivalente. Problemas com enfermidades em gato, cachorro, cavalo, vaca, porco, passarinho, papagaio e outros animais, ele sempre resolvia com sucesso. Estou falando do meu amigo Aloísio Ribeiro, com quem compartilhei anos da minha juventude pela afinidade artística que nos unia. Fomos amigos, tocamos juntos nos salões, nas bandas de coreto, nos carnavais e nas serenatas. O amor que ele tinha pela música era notável, ainda que não fosse um expert em executar tecnicamente o pistom. Mas pela sua sonoridade ele transmitia uma agradável sensação de alegria e bem estar. Ele organizava as serenatas com os amigos comprometidos com o respeito. Pela sua influente amizade, ele comunicava as moças que receberiam a serenata em frente às suas residências. Iam geralmente nessas oportunidades cantores como o Orozimbo e outros, na clarineta em dó estava o Panfiro, violonistas e o estimado Salim. O Aloísio não tocava, mas administrava tudo.

Na banda de coreto, o Aloísio tocava pistom e raras vezes o sax harmonia. Nas bandas, prevaleciam os dobrados e marchas militares.Fora da banda os inseparáveis amigos tocavam os ritmos mais executados na época: marchas de carnaval, samba, mambo, rumba, bolero e samba-canção, excetuando nas serenatas onde o repertório musical era mais romântico, com canções e valsas.

Ao cair da tarde, a expectativa após o jantar era pegar os instrumentos e começar a tocar em casa, ou se preparar para o ensaio noturno na banda. Era uma época em que não existia a tecnologia que existe atualmente. Não havia televisão, telefone nos lares, internet e tantos carros nas ruas. As maiores festas eram o carnaval e as festividades da Igreja. Em todas as festas os metais e as palhetas dos instrumentos de sopro se faziam ouvir alegrando a multidão.

Em Pouso Alegre sempre teve bons músicos. Era comum o Aloísio, o Salim e o Panfiro irem a Pouso Alegre e, nos bares que apresentavam música ao vivo, ouviam uma boa música regada a cerveja e petiscos. Embarcavam no trem das 18h e voltavam no trem das 22h. Certa vez, após saírem do bar da música ao vivo, os três pararam num bar que havia na avenida principal que dava na estação. Por faltarem alguns minutos para o trem chegar decidiram parar ali e tomar mais umas. Não prestou. O Salim, já meio cá meio lá, se esbarrou num bêbado que ali estava e este invocou com ele. O Salim não se intimidou e enfrentou o bêbado. O bêbado levantou-se e disse que ia buscar um revólver. Enquanto ele foi buscar a arma, o Panfiro, que praticava esporte, saiu a cem por hora até a estação. Atrás estava o Salim, com as pernas abertas tentando se equilibrar e, bem lá atrás, o Aloísio que tinha uma sequela numa perna. Chegaram na hora do trem partir, e sãos e salvos rumaram à Santa Rita.

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